domingo, 19 de junho de 2005

Alerta vermelho para a Europa

Apesar da minha inclinação para o Não no desiludido referendo português do tratado constitucional europeu, não deixa de ser preocupante a falta de acordo dos estados-membros na fracassada Cimeira 'luxemburguesa', em Bruxelas. Preocupante, mas não necessariamente fatal ou dramática. Aliás, como seria o próprio voto Não no eventual referendo europeu. Entre outros argumentos, na crise tudo fica mais transparente, logo a responsabilidade dos governantes é conhecida e, até, partilhada pelas opiniões públicas respectivas às quais prestam contas.

A Europa perde com este desacordo orçamental para 2007/2013 porque, acima de tudo, paralisa-a, pelo menos temporariamente, a um nivel interno e fragiliza-a na cena internacional ao nível da imagem e da posição negocial. Muitas questões ficaram por resolver nesta Cimeira, como o apoio à proposta de Kofi Annan sobre a reforma da ONU, a operacionalização do serviço diplomático europeu, o embargo de armas à China.

Contudo, foi chocante ver os dez países de leste recém-chegados à UE, liderados pela Hungria, a admitirem o decréscimo das suas ajudas comunitárias na tentativa de salvarem a Cimeira e dela sair um acordo mínimo entre todos os estados-membros. Foi de facto vergonhoso verificar a total desunião desta instituição entre os países ricos e pobres, por interesses e estratégias que desconhecemos, mas que naturalmente suspeitamos. E os culpados têm nome: França, Reino Unido, Holanda e Suécia, apesar de também aproveitar à Espanha.

Estes dez países pobres, todavia mostraram a sua grandeza. E não é por serem dos países mais beneficiados com a distribuição do bolo comunitário, pois são de facto os mais pobres economicamente, é que por esta via podem ter prejudicado as suas posições-base de negociação no futuro, pois os 'mais ricos' já sabem até que ponto eles estão dispostos a 'descer'. Foi a chamada proposta de risco e correram-no. Ao contrário, os outros, mais uma vez demonstraram falta de sentido europeu, reflectiram as grilhetas da popularidade interna e aprisionaram-se à opinião pública nacional, dando mais uma vez mostras de falta de liderança, visão e carisma na política europeia.

Quando um dos maiores receios de Delors sobre o futuro da Europa era o conflito entre os países ricos e pobres dentro da União, está a verificar-se que o maior perigo para o futuro da Europa é surpreendentemente, ou não, o desacordo entre os mais ricos. Uns dirão que a causa desta falta de futuro euopeu está no apressado alargamento, eu digo que a causa está na personalização doméstica da governação.

NCR

4 comentários:

Pedro Soares Lourenço disse...

A Europa Unida encontra-se na maior encruzilhada da sua curta historia!
Só desatara os novelos se houverem Homens com “força” suficiente para tal.

Unknown disse...

a Holanda e o Reino Unido estão fartos de contribuir para a coesão dos agricultores franceses - não acredito que goste de ver 40 % do iva (hoje 7,6%, a partir de julho 8,4%) destinarem-se ao sr. Bové e quejandos - mal por mal mais valia pagarmos para os capistas e os ajapistas portugueses

Pedro Soares Lourenço disse...

Concordo, a PAC é o maior escândalo mundial juntamente com as políticas de subsídios à agrícola dos EUA, embora este seja um problema deles! Tais políticas são o maior factor mundial para o subdesenvolvimento dos países pobres. Mas isto os meninos da alterglobalização não querem ver!!!

Nuno Cunha Rolo disse...

A resistência francesa, o orgulho inglês, a saturação holandesa, a sobranceria sueca, o provincianismo espanhol, tudo se reconduz à grande causa que referi: a manutanção de determinados «direitos adquiridos», cujas circunstâncias em que foram atribuídos mudaram. E os mais «fortes» governantes europeus querem uma Europa, neste momento, à medida exclusiva da sua agenda interna...logo, a PAC francesa é tão aberrante como o cheque inglês, a ambição espanhola é tão desprovida como a altivez sueca, a domesticação alemã é tão míope como a visão governante da Europa
NCR