Esta é para mim uma lei social e humana em que acredito, apesar de refutável e poder levar à discussão de muitos argumentos, mitos e sensibilidades, por vezes para além da racionalidade. Apesar disso, vislumbremos alguns, ficando desde já aberta a discussão!
Desde já, menos dinheiro não significa necessariamente pouco dinheiro. Há gente a receber 10.000 ou 5.000 euros por mês, contudo se se retirar 1000 ou 500 acham uma desgraça. Julgam emotivamente que não sabem viver com isso (e assim se massacram porque têm de trabalhar mais ou arranjar mais dinheiro). Outros, de todo não. Outros ainda não fazem ideia do quão bom pode ser ganhar precisamente "menos dinheiro" ou "muito menos dinheiro", e pode ser a melhor fase das suas vidas.
Doutro ponto, mais dinheiro não significa que as pessoas disponham de dinheiro, pois podem tê-lo investido em casas, carros, barcos, poupanças, etc., mas não dispõem de cash-flow, de disponibilidade financeira imediata e preferem assim. Normalmente, são pessoas muito poupadas, que não têm dinheiro "parado" nos bancos, não são pessoas ricas nesse sentido, é uma riqueza estática, imóvel, muitas vezes utilizável, mas não disponível, por pertencer ainda aos ascendentes familiares, condicionada à lei da sucessão.
Acresce ainda que, viver melhor não significa possuir mais dinheiro. E esta é a variante da máxima do título deste post que deverá, ou deveria, pautar crescentemente a rotina da grande maioria dos portugueses. Da perspectiva positiva, na visão do copo meio-cheio, esta máxima, voluntaria ou involuntariamente, pode ser um acontecimento extraordinário, porque normalmente damos mais valor às coisas e às pessoas que nos adoram (e por esta via ficamos também a saber quem são). Constitui igualmente a possibilidade de ajustarmos os velhos hábitos aos novos, por vontade ou imposição, que podem ir desde a maior presença física aos mais caseiros, ou pedonais ou mesmo de revisita ao que já “temos”, sem nos ficarmos pelo que já “acumulamos”: imagens, papéis, consertos, usufrutos, de certos objectos, antigos ou novos, alguns até por estrear.
Na actual nova ordem financeirista mundial, dinheiro é sinónimo de crise, stress, ansiedade, problemas de gestão, de débitos, de remuneração, de desconfiança, de falta de tempo para os familiares e amigos e também pode provocar falta de saúde, saúde que nenhum dinheiro pode comprar. Mais dinheiro, chama mais dinheiro; nesta fase, difícil é parar. O cínico pode sempre ver o meio-vazio do copo, argumentando que mais dinheiro dá para comprar, alugar, reservar e usufruir de muitos bens e prazeres, mas, para essas pessoas, tenho sempre um feeling de que algures durante a vida a consciência vai ter pelo menos quinze minutos de verdade e algo de novo pode acontecer, se a vida não acabar primeiro.
O paradigma do "mais dinheiro para viver melhor", que nos levou a esta ganância dos prazeres etéreos e dos consumos, que por sua vez nos levou, e nos deixámos levar, à actual crise financeira, pode ser uma oportunidade para recentrarmos a nossa vida naquilo que é mais importante, ou seja, em tudo aquilo cujo valor não depende do preço e é insubstituível. O quê? Os nossos amores, amizades e as nossas decisões, no fundo, nós e os nossos, porque se há lugar onde podemos encontrar a irrepetibilidade acredito que seja na humanidade.
Concluindo, há muitas formas e modos de olharmos para esta máxima, mas respeitado um valor mínimo de cumprimento de todas as responsabilidades primárias e até secundárias, sobretudo de ordem financeira, pode ser-se tanto mais feliz, quanto menos dinheiro se dispuser. Normalmente, não é socialmente bem aceite esta pretensa "lei tendencial", mas as crises (que no grego significa mudança/reforma/renovação) são excelentes oportunidades de crescimento pessoal, familiar, cívico e, inclusive, económico. Podem ser janelas abertas ao enriquecimento interior e relacional, das quais pode enriquecer toda uma comunidade nacional, sobretudo as que fazem resultar a sua avaliação e valor de factores quantitativos, como o PIB, e o dinheiro.
Menos dinheiro significa viver melhor, tal como riqueza não é a mesma coisa que dinheiro. Difícil é perceber hoje, como e, depois disso, agir, continuamente, em conformidade. Quando os cidadãos e empresas levarem este paradigma a sério, as correspondentes Políticas Públicas nascerão.