Portugal, a Europa, os Media, nós, portugueses, vivemos a vida sobre o asfalto financista quente e movediço que tem sido estes últimos anos. Um frenesim paranóico. Nas TV das casas, nos rádios dos carros, nos podcasts dos ipods, nos jornais dos cafés, nas bicas dos quiosques, nas escolhas do almoço, do jantar, dos passeios, das férias, é um corrupio avassalador que nos acossa em cada acto diário tacteado. Uma espécie de trailer sem fim sobre a ascensão e queda da vida ocidental, outrora selva inteligente e superior da acção pública civilizada. Nada nem ninguém escapa, nem mesmo o cão vadio da estrada que sem culpa é objecto dos nervos miudinhos de cada sozinho que passa e fala.
Os cortes anunciados vão cair em cascata sobre a pasmaceira veranil da sociedade portuguesa, que procura respirar por entre as bolsas solares e evitar queimar-se dramaticamente. Nas próximas semanas, e meses, os mais atentos vão ficar especialistas em percentagens e pode ser até jogado uma espécie de Monopólio dos Cortes. Como se sabe, o objectivo do jogo original é comprar, vender, trocar ou alugar as propriedades de forma lucrativa, de modo a que um dos jogadores se venha a tornar o mais rico e consiga atingir o monopólio. A lógica do “Monopólio dos Cortes” é diferente. O objectivo atinge-se quando um jogador consegue falir todas as organizações, ou seja, nenhuma dar lucro! Em vez de ruas e praças e avenidas e estações, temos serviços, organismos e empresas públicas, muito para além da Companhia da Água e da Electricidade que já existem na versão actual do jogo. Em vez de casas e hotéis, temos títulos de crédito, hipotecas, taxas de juro, avais, etc.; os conteúdos da “cartas da sorte” podem ir desde a isenção de cortes às aterradoras cartas “estás falido!”...
Joguemos portugueses e continuem a ver jogar.
1 comentário:
Analogia muito interessante!
Monopólio "tradicional"... puro entretenimento... não assustador!
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