O ser humano continua a ser um animal assustado...
Os homicídios da modernidade continuam a ter os mesmos padrões das mortes involuntárias da antiguidade. Para além das características literárias do poder, ambição, vingança ou simples loucura, continua a surgir, de quando em quando, um "marginal", diabólico ou genial, consoante a perspectiva, que se arroga no direito de determinar o tempo da morte de muitos da sua espécie, em nome de uma ficção humana, seja de ordem divina seja concernente ao unilateral aperfeiçoamento da existência humana ou fatalidade do destino humano, mormente encarnados, por definição, em personalidades ou grupos/sociedades religiosos ou ideológicos, cujas características principais são a hierarquia, obscuridade, desigualdade e o autoritarismo.
Sabe-se que a principal causa invocada de morte humana de toda a História está na religião, sucedendo-lhe de imediato a ideologia (política). Em rigor, os sobreditos loucos ou génios arrogam-se a impor - através de instrumentos bélicos do poder para a subjugação cultural e humana -, algo que não conseguem fazê-lo pelo meio mais legítimo, inócuo e sustentável, como é o democrático. Mas a democracia tem custos, exige tempo, esforço, escrutínio, diálogo, concertação e capacidades de liderança colectiva que não são fáceis de encontrar, mesmo em quem, paradoxalmente, consegue atingir o poder político.
Não é assim de estranhar que o que resta da ideologia e vida de Andres Breivik, para além do duplo atentado, seja o facto de ser nazi inscrito, católico acólito e maçon graduado, tudo ideologias, religiões ou grupos/sociedades que primam precisamente pela falta de transparência, democraticidade, igualdade e escrutínio público. Mais, "manifestou" que queria este tipo de existência e de organização para toda uma sociedade e espécie humana.
Naturalmente que as instituições, criadas pelo Homem, não podem ser culpabilizadas ou responsabilizadas por estes actos sociopatas, mas pelo menos deveria ser suficiente para suscitar uma reflexão ampla, partilhada e profunda (contemporânea) sobre a razão do porquê continuar-se a matar em nome das mesmas causas da antiguidade e do porquê o ser humano querer organizar-se em grupos/sociedades funcionalmente secretas (ou semi-abertas), publicamente irresponsáveis, com regras desigualitárias, ritos de vassalagem típicos da Idade Média e ninhos de tráficos de influências e de pequenos poderes com alcance "governamental", senão mesmo para toda uma sociedade ou espécie?
Não há meio do "medo" desaparecer das nossas vidas (apesar de não assistir ao Hélio)...
1 comentário:
Confundir democracia com transparência é grave...
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