quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Derby

Obviamente, mais de doze horas após o apito final ainda muito pouco foi dito sobre o derby.
Ontem, fui dos primeiros a entrar no WC e dos últimos a de lá sair. Estava à rasquinha é certo e com muito por obrar. Perdoe-me os mais sensíveis a estes aspectos escatológicos, mas ai daquele que não adora obrar na paz do Senhor, com calma, tempo, ponderação e reflexão. Exemplo: quantas e quantas decisões importantes das vossas vidas foram tomadas no WC?
Exacto.

Há pouco vi e revi os primeiros oito minutos da partida. Rostos concentrados, caxes abertos. Cumprimentos. Karaoke versus voz nua. A segunda rapidamente bate o primeiro, com a entrada de alguns dos nossos retidos à porta. Bolas divididas, sorte nos ressaltos. Di Maria encanta, Izmailov não assusta.
O olhar tresloucado do pobre menino Joãozinho e…, de repente aquela entrada selvagem.

Vejam e revejam os seguintes segundos da transmissão directa. Vermelho directo; louco de ódio, arrependido de morte. Pede desculpa ao ofendido e logo é afastado pelo nosso, que um dia dele também já foi, capitão. Olha-lhe nos olhos com a reverência que se deve a um líder. E acena com a cabeça em sinal de assentimento. Ouvir: cabisbaixo, a contar com quantas folhas se faz um relvado, o perdido menino não ouve mais do que a curva que tanto o acarinhou vilipendiar o seu nome. Agir: pede desculpa a quem por ele pagou uma fortuna. Olhar: antes de entrar no túnel, lança um breve mas intenso, carregado de ira, para o encarnado e branco que um dia já foi e não mais voltará a ser seu.

Porque é que eu gosto tanto de derbys? Ora, porque são sentidos assim, muito intensamente, durante horas. Primeiro lá, nas bancadas; depois durante dias, semanas, meses, anos, na nossa memoria, nas nossas conversas, na nossa vida.

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