Todos os candidatos presidenciais tiveram comportamentos anti-éticos, todos pecaram aos olhos de algum ser humano, todos cometeram certas violações de algum código moral, social, administrativo ou mesmo criminal. É da natureza humana. Não pode, portanto, haver aqui qualquer discussão do tipo quem é o anjo e qual deles é o diabo. Todavia, e estou convicto que não é por me considerar um eleitor virtual de Obama, o que é impressionantemente triste verificar é o silêncio dos grandes meios de comunicação social quanto a dois aspectos da vida de McCain que, como se viu ainda durante a recente campanha presidencial, seriam motivo de retirada da candidatura presidencial, a saber:
- a relação extraconjugal com uma rapariga de 24 anos durante o seu primeiro casamento (para não falar da discutível atitude de se divorciar da mulher assim que ela ficou numa cadeira de rodas incapacitada e ter se casado passados meses, ao que me consta)
- o facto de receber uma pensão de veterania da guerra do Vietname por invalidez de 100%! (Imagine-se aqueles que ficaram numa cadeira de rodas ou mesmo tetraplégicos, qual será a percentagem!). Não se questiona a sua capacidade para governar e ser comandante chefe da mais poderosa força armada do mundo, o que é questionável é a sua conduta ética em a receber, quer na perspectiva de político, quer na perspectiva de cidadão.
Os "media" sabem, Obama sabe, as elites políticas sabem, mas o assunto é proibido. No recente debate presidencial havia 2 temas interditos (i.e., inegociáveis) pela comitiva de McCain: "women and 100% disability pension".
O que pode ser dito e não dito, o que é discutido e não é discutido, o que os meios de comunicação mostram e omitem, numa campanha presidencial com tamanha importância, o suficiente para a terminar mais cedo, é revelador do mundo de desinformação em que vivemos. Não nos basta impingir, ao que parece, o excesso de informação, a má informação e a pseudo-informação. Não admira que no ano passado jovens de todos os EUA tenham elegido o programa de Jon Stewart "Comedy Central News" (como o próprio indica, uma comédia!), como a principal fonte de informação e de actualização noticiosa! (refira-se que a resposta de Jon Stewart a este "prémio" de audiências, quando lhe perguntaram se não se sentia incomodado por ele, foi à Jon Stewart: "Does it bother you that some viewers mistake CNN for a news network?").
Não tenho qualquer estado de alma quanto ao adultério ou sou de todo defensor do puritanismo ético - neste último caso, para além de imbecil é utópico -, todavia, o ponto é que deve ser o cidadão a julgar se importa ou não para o seu juízo, se é relevante para votar na pessoa, e não ser os "media" a subsitutirem-se aos eleitores.
Apetece perguntar: por que se vêem tantas notícias se tudo é montado, desde a imagem à palavra? Que real valor têm para conhecermos melhor o mundo? Que mais-valias trazem que sejam superiores a outras fontes de conhecimento, comunicação, lazer, cultura e de aprendizagem? Haverá algo mais de que puro voyeurismo humano, e exibicionismo, na necessidade de a pessoa estar excessivamente noticiada?
A propósito: por que as pessoas elegem tanto a actualidade "noticiosa" informativa (a designada «small news») como um dos barómetros de elevação e consideração nas conversas de café com amigos e colegas de trabalho?! Ai de quem não souber diariamente qual a tendência matinal dos índices bolsistas, do preço do petróleo e das decisões 'percentuais' sobre a taxa da Euribor! A sociedade acaba de criar uma nova geração de excluídos sociais!:).
Tudo isto é, no mínimo, assaz paradoxal, não acham?
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