Eu e Marx temos muitas poucas coisas em comum. Destas, destacam-se duas: não somos marxistas, nem gostamos de dinheiro. Marx afirmou-o em livro e eu afirmo-o em blogue: não sou adepto do marxismo, nem gosto de dinheiro. E é, no mínimo, irritante e humanamente redutor pensar que, cada vez mais, os momentos de felicidade das pessoas passam pela posse do dito pilim e ser por causa dele que lutam todos os dias por mais um dia de trabalho para o não orginal Criador: o valor acrescentado, e de preferência com inovação.
Com a Nova Economia, ainda tive esperança de que o dinheiro fosse paulatinamente substituído pelo conhecimento, pelas competências, pelo intangível, pela mão invisível do mercado, mas, enfim... vem uma crise e avisa-nos de que o dinheiro ainda manda, é rei e senhor dos anéis, do cobre ao diamante, e que, quase tudo, é uma questão de "Quanto?", traduzido em divisas!
Marx começou por pensar bem: não gosto de dinheiro, logo, vamos acabar com o seu valor, quem é que tem o dinheiro? Os capitalistas?! Como? Pelo lucro?! Temos que 'desvalorizar' essa mais valia em benefício dos que mais "trabalham", os proletários explorados. A sua causa também é de salutar: acabar com a hegemonia do dinheiro sobre a condição (sub/desu) humana. Mas, como todas as boas intenções nesta selva social... prosseguiu mal e acabou ainda pior.
Para mim, só se regressa ao valor devido do dinheiro quando ninguém, repito: ninguém, o queira mais do que aquele que precisa para viver bem e feliz. Como isso é quase impossível, porque é contra a liberdade individual, a nova utopia está em descolar o dinheiro do valor e estatuto da liberdade de uma pessoa, como acontece há séculos. O problema é que, como há séculos, quanto mais dinheiro se tem, maior a preocupação em valorizá-lo. O que não significa ser mais livre. Felizmente.
3 comentários:
«dinheiro fosse paulatinamente substituído pelo conhecimento, pelas competências»
Nuno, mas isso é o que o Marx dizia, não é?
«Temos que 'desvalorizar' essa mais valia em benefício dos que mais "trabalham"»
A sobrevalorização do Trabalho sobre o Capital não é justamente o primado do conhecimento/competências sobre a posse do dinheiro?
Ó diabo: querem ver que és marxista e não sabias?
Cruz credo!!!
Nuno, quanto à questão da substituição, o que julgo que Marx queria, não sou especialista em Marx, era acima de tudo substituir a classe dirigente burguesa pela proletária, entregando o dinheiro a estes. O dinheiro era apenas um "instrumento" que devia simplesmente mudar de mãos. Quando digo que começou por pensar bem é, em rigor, pensar certo, de acordo com o seu sistema conceptual, mas impossível (por isso não sou marxista ou adepto do pensamento de Marx) de concretizar, sem colidir com outros princípios maiores, como o da liberdade individual. Digamos que é a velha dialéctica entre o idealismo e realismo. Eu também queria viver num mundo sem religião, mas não é por isso que sou anti-religioso ou não gosto de religião. Fico-me pelo ateísmo e pelas leituras recentes dos criacionistas. Parece paradoxal, mas não é. Talvez consiga fundamentar melhor esta ideia futuramente aqui no Arcadia, se possuir conhecimento e competência.
Todavia, refira-se, desde já, que entre o capital monetário e o intelectual a minha preferência vai para este último.
Abraço,
NCR
Subscrevo que escreveste, salvo (no meu caso pessoal) o ateísmo, claro!
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