quinta-feira, 14 de abril de 2005

Memória gastronómica (I)

O que trazemos das viagens?
Das fotos dizia o slogan serem para “mais tarde recordar”.
Das viagens trazemos bons momentos, a descoberta de outros mundos, que indubitavelmente alargam o nosso.
Mas para mais tarde recordar não trazemos apenas imagens, mas também, prazeres, dores, olfactos, sons, sabores, um mundo de sentidos despertos...
Do Duomo Florentino podemos trazer a recordação daquela enorme escadaria que nos leva ao inferno interno da copula em fresco, ou ao céu de chão laranja, dos telhados da cidade dos Medici. Mas qual o sabor daqueles degraus? O odor ainda podemos sentir, mas o sabor....
Ao entrarmos na Igreja de São Francisco em Arezzo para vermos a obra prima de Piero de La Francesca, esse “herói” do Proto-Renacimento, podemos sentir o cheiro húmido e algo bafiento de uma igreja com mais de 600 anos. Depois, por detrás do altar mor, podemos deliciar a vista com as eternas cenas bíblicas pintadas pelo pupilo de Sansepolcro, que nos revoltam o sentidos. Mas qual o seu sabor? Nem queremos imaginar, por certo...
Da maior sala de visitas da Europa, a praça de S.Marcos em Veneza, para alem de tudo o mais trazemos o palrear de toda aquela gente que inunda o espaço, a musica que se toca aqui e ali, o casco dos vaporeti que sulcam o grande canal. E o sabor? Qual o sabor?
Nada pode alcançar a memória que trazemos das gastronomias por onde passamos.
Ainda sou capaz de me lembrar do cheiro e sabor de uma fabada asturiana num almoço tardio em Cangas de Onis, ou do perfume das especiarias com que se temperam os petiscos da Djamena El Fna em Marraquexe...



...em casa ainda tenho canela que comprei no bazar das especiarias na velha Istambul. E o horripilante cheiro dos fish and Chips britânicos inunda o meu cérebro sempre que penso em peixe frito. E nunca esquecerei aquela galinha estufada com vegetais que um dia jantei numa Farm House em Inverness bem no topo das Highlands...
(continua...)

PSL

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