domingo, 10 de abril de 2005

(A)postila

Julgo que o principal ponto de discórdia que pode ser discutido de forma objectiva e serena e que deriva das minhas palavras, é a frase «as religiões não deviam de existir». Aparentemente com significado intolerante, todavia não o prossegui. Pelo menos, não era essa a intenção e longe de mim agora, que a existência da religião parece-me irreversível, pegar em armas ou bombas ou megafones e proclamar «o fim das religiões». Sejamos realistas, apesar de preferir o idealismo. Esta frase tinha o contexto e o pretexto de exprimir uma opinião minha: as religiões não deviam existir, porque nunca deviam ter nascido. Ou por outra, a religião constitui uma limitação à acção e pensamento humanos, assim como ao próprio conhecimento, pois na história da humanidade grassam exemplos de como a sua evolução - no cosmos, na terra, no individuo, na sociedade -, só despoletou para a civilização moderna quando o homem conseguiu desprender-se das grilhetas "teológicas e divinas". E não é por acaso que durante o período da história que as sociedades eram reinadas pela Igreja e por papas e demais chefes religiosos, foi o período em que se verificaram atrasos ou involuções no progresso, no desenvolvimento e nos direitos e liberdades fundamentais como aconteceu, por exemplo, no período medieval. Naturalmente que a prova de que a minha opinião é a mais acertada dificilmente se poderá fazer, porquanto seria necessário saber como o mundo evoluiria sem a religião. Mas estou convencido de que, dados os insucessos e incongruências das 'ideias', 'dogmas' 'crenças' e 'factos' religiosos, e os crimes e morticínios que causou, o mundo estaria melhor sem religião. Vale o que vale, porque é uma simples opinião.
Por outro lado, o que me parece indiscutível é a natureza jurídica laica do estado português. E isso não tem sido respeitado. Eu respeito as religiões, as igrejas e a liberdade religiosa. E se alguém violar os direitos dos religiosos, mesmo em nome do ateísmo, serei dos primeiros a condená-lo. Não se pode, actualmente, acabar com a religião, e até seria catastrófica a sua extinção, pois implicaria mais guerra, morte e intolerância, situações que são bem conhecidas da implantação e diáspora das religiões no mundo. Nalguns casos, a religião até pode ser um mal menor, mas não deixa de ser um mal. Evidentemente que tem coisas positivas, muitas mesmo, mas todas elas, na minha opinião, podiam ser defendidas e praticadas sem necessidade de invocar qualquer transcendência. Como Feuerbach, filósofo alemão (1804-1872), dizia, Deus é aquilo que o homem quer que ele seja, logo, Deus é uma criação do Homem. Assim, Deus é humano, do planeta Terra. Prefiro defender que cada um de nós é um 'deus'. E a História está farta de nos ensinar que os grandes males e os grandes feitos foram feitos pelo Homem. Só é pena que a maioria das vezes se invoque 'Deuses' e 'Diabos' para os realizar, como que para justificar a irresponsabilidade e o transcendentalismo da natureza humana.
NCR

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