sexta-feira, 6 de junho de 2008

Preocupante

Talvez por ser mais novo do que ele, eu sou mais impressionável que José Sócrates. O número de manifestantes ontem em Lisboa deixou-me deveras assombrado: 200.000.
Duzentas mil pessoas deram-se ao trabalho de dar a cara por algo em que acreditam e por algo pelo qual estão dispostos a lutar. Isso orgulha-me enquanto português, e é uma boa bofetada naqueles que adjectivam o povo de "futeboleiro".
Orgulho-me porque isso significa que ainda não estamos irremedivelmente derrotados pela apatia e resignação a que a Igreja pré-Vaticano II nos condenou nos últimos séculos, e que ainda não estamos definitivamente "amorfizados" pela noite salazarista que nos quis roubar o rasgo e o engenho.
Duzentas mil pessoas na rua fariam uma revolução. Lembro-me de ver uma manifestação de cem mil pessoas pela democracia em Moscovo (quando Ieltsin discurso no topo de um veículo), e lembro-me do impacto que - nessa altura - esse número redondo teve em todos os órgãos de comunicação social.
Ora, sendo um dos "braços armados" do PCP o principal da manifestação de ontem, é exactamente isso que me preocupa: 200.000 pessoas fariam uma revolução. E se nos dias de hoje uma revolução será de todo improvável (mas não impossível, claro), já não terá o mesmo grau de improbabilidade uma situação de desordem social (sem ataque às instituições democráticas), que reúna os descontentamentos apenas pelo mínimo denominador comum: o medo de amanhã.
E é do medo dos amanhãs que nascem os populismos.

2 comentários:

osátiro disse...

AH! AH!
O que tem a ver a Igreja anti Vaticano II com a manif???
Essas obsessões curam-se com psiquiatria!
É preferível a revolução, claro, tipo Revolução Francesa que, em nome da Liberdade,Igualdade, Fraternidade assassinou milhares em poucos anos e até inventou a guilhotina para matar mais depressa porque as filas eram intermináveis.

Nuno Santos Silva disse...

« que tem a ver a Igreja anti Vaticano II com a manif???»
Absolutamente nada.
Mas sabe que Igreja teve um papel determinante no "acanhamento" do povo português?...
Por outro lado, se ler bem o que escrevi, eu não disse que era preferível a revolução (aliás, manifestei-me preocupado com a remota possibilidade de isso acontecer).
Disse sim que estava orgulhoso com a capacidade dos portugueses de "inscreverem" a sua posição. É sinal que não vivemos só para o futebol e para as novelas.
Nada é mais irritante que a resignação salazarista.
Ou acha que é bom comer e calar?...