sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O futuro presente

O mundo está constantemente a evoluir e nem sempre damos por essa evolução. Sabemos reconhecer a inovação, mas nem sempre consideramos a sua aplicabilidade imediata. Seja por inutilidade, ou falta de crença ou mesmo de estética, estamos sempre atrás daquilo que é, ou será, o futuro. Na gestão pública, acontece o mesmo. Leva-se décadas e décadas para aplicar regras de bom senso e outras décadas, ou mesmo séculos, para prever algo que ultrapassa o senso comum. Em todas as idades da humanidade, em todas as épocas do saber humano, raramente estes estiveram à altura do seu ambiente contemporâneo. O Presente era, e de certa forma ainda é, o grande ascendente nas decisões e estratégias das vidas diárias do Homem, com imenso prejuízo para as gerações futuras. Este valor, que é dos poucos valores humanistas cujo interesse e adesão tem vindo a crescer na época actual, será determinante para a espécie humana, enquanto pretender existir como tal. Dos individuo, dos filhos das famílias, da sociedade civil passará para a Política, mais tarde ou mais cedo, e em grande força, o Futuro da Humanidade, para a qual a gestão pública terá um papel de grande fundamentalidade. Não será sequer uma opção, porque a escolha é entre a vida e a miséria de vida. O Estado de Bem-estar renovar-se-á obrigatoriamente, e tenderemos a ser essencialmente elementos de um povo (mundial) que trabalha sem cessar. Já não será nas gerações actuais, mas com muita certeza nas futuras. Esta visão não tem necessariamente que ser catalogada de pessimista, antes uma visão realista e determinista com o actual estado da Política. Daí que não signifique que venha a concretizar-se, mas que haverá uma grande probabilidade de se verificar se continuarmos por esta pseudo-estratégia fragmentada, acomunitária e desumanizada da sociedade e do poder.
O papel dos gestores políticos e públicos será, assim, de primordial importância nas sociedades políticas do futuro, porque a instabilidade será um valor maior na Vida das pessoas. Tal estado de coisas terá grandes efeitos na procedimentalização dos sistemas políticos e democráticos. Todavia, o que muita gente infelizmente ainda não assimilou, é que essa importância já é do presente. Ainda não existe essa consciência colectiva. Um caminho a fazer é o seu apuramento. Para já, há apenas alguns sinais do que nos espera (pelo menos, “aos nossos filhos”) como sendo um problema diário - diria mesmo horário: as universais consequências das catástrofes "naturais", da publicização de territórios privados, da escassez da água potável, das novas peregrinas fragilidades dos mercados económicos e financeiros, a impotência dos estados para melhorar a qualidade de vida das pessoas, são alguns desses sinais.
Portanto, a discussão entre a esquerda e a direita, se ambas continuarem tal como estão, restará apenas nos manuais de ciência política e de História. Os problemas não serão fracturantes entre a esquerda e a direita, ou entre os cidadãos e as empresas, ou mesmo entre o sector público e o sector privado. Serão verdadeiramente globais e globalizados, onde a missão de cada estado será sobreviver, num grau tipicamente renascentista, seja na paz ou na guerra. Alguns regressos estão para acontecer em breve. Já muitos dão conta deles quando lhes falta a água, a luz, as casas onde viviam, os valores básicos que aprenderam, e se confrontam com a elevação da “selva” em pequenos actos e espaços, o elevado preço das coisas básicas, dos pequenos passeios culturais ou de convívio, do pretendido lazer das grandes viagens e das aventuras de fim-de-semana. A pouco e pouco, parece que a história faz os seus próprios ciclos.
Talvez, estejamos na fase embrionária da Terceira Globalização, depois das que resultaram das Novas Descobertas e das Novas Tecnologias da Comunicação e Informação. A ocorrer esta Terceira Globalização ela far-se-á, quer-me parecer, no âmago da Política da Humanidade. A Política do contrato social, se preferirem. O "beautiful basics" regressará.
Em conclusão, novos desafios estão a emergir para a arte de governar, exigindo-se uma nova configuração da política, dos políticos e da gestão pública que cada vez mais se torna iminente e premente. Ninguém sabe ainda como desenhá-las, nem como enfrentá-las, mas ela está prestes a nascer. Com tempo, veremos se se seguir-se-á estas tendências e, sobretudo, se aprofundarei e concretizarei, com rigor, o que acima escrevi.

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