quarta-feira, 14 de setembro de 2005

ESPUMAS XIV

Não podemos querer ter o melhor de dois mundos, mas pior do que isso é viver os dois mundos como se fossem um. Existem dois mundos, o do querer e o do poder, ou seja, aquele que conseguimos viver. O mundo que queremos não chega, todos sabemos, o mundo que realizamos soçobra do que esperamos dele. O confronto é fatal, no entanto, a capacidade de resposta e a vontade de o ganhar não é de igual medida para todas as pessoas. Porque, para além dos feitos e dos feitios, há sempre um mundo que prevalece em cada pessoa. Numas, predomina o mundo ideal, noutras, o mundo real. Assim, as nossas acções e os seus efeitos estão aquém ou vão para além do que somos, consoante a condição seja idealista ou realista. É uma luta desigual esta que travamos contra nós mesmos, ainda que com prazo vitalício, pois somos incapazes de nos realizar plenamente sem todos os outros (o nosso alter ego e os egos daqueles que também aqui vivem): os egos raramente se harmonizam. É como a relação do carbono e do oxigénio neste mundo humano: ambos são essenciais para os outros (o Homem, a Natureza), todavia, é através destes que aqueles asseguram a sobrevivência do seu elemento. Podia dizer que é uma cadeia, mas prefiro não pensar nessa palavra. O pessimismo é inimigo da liberdade.

NCR

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