quarta-feira, 21 de abril de 2010

A lenta agonia do jornalismo televisivo

Apesar dos seus 80 anos o meu pai ainda vai à bola, pelo menos à Catedral. E leva sempre consigo um pequeno rádio a pilhas que liga sempre que existe um lance dito “duvidoso”. Do outro lado ouve um qualquer relato que é feito por pessoas que também têm um monitor à sua frente. Assim, somos dos primeiros a saber se aquele lance resultou ou não em mais um “engano” contra o nosso Querido Clube.

Não sei de onde vem esta fúria pela notícia. Venha de onde vier, da natureza ou da cultura, sei sim que ela é transversal. Não conhece idades ou classes sócias. Cores ou credos.

Ontem, pelas onze e meia da noite, alguém escrevia no seu Facebook: “Ultima hora, incêndio no edifício da Suiça no Rossio”. Rapidamente a noticia saltava para a timeline do Twitter. Em poucos minutos foi confirmada por quem passava no local ou mora nas colinas ao redor do centro da cidade. Meia-noite: os telejornais televisivos quase ignoram o pesadelo que se apodera dos lisboetas, para sempre traumatizados com aquele longínquo dia 25 de Agosto de 1988 (link). “Já não há chamas, apenas fumo branco” replicava-se no twitter o que apenas se ouvia de um qualquer repoter da SIC Noticias, aparentemente, no local. Dez minutos passados após a meia-noite, o primeiro vídeo das chamas chegava ao Facebook. Dai a cinco minutos, alguém escrevia qualquer coisa como isto no twitter: “bombeiros retiram dos escombros do prédio do Rossio o jornalismo televisivo”.

Isto…, é só o início, pois o 4G (link) avança a todo o vapor. Primeiro abandonámos os telejornais nas televisões generalistas, agora pomos de lado os próprios canais noticiosos. Estes não parecem muito preocupados, pois continuam fieis à “noticia enlatada” e à preguiça do “directo do interior de uma sala ou à porta de um edifício”.

No futuro, apesar de todos continuarem ávidos pela noticia, ninguém, rigorosamente, ninguém, vai ver e ouvir noticias naquele objecto gigante e vagamente inestético da sala lá de casa.

[foto]

1 comentário:

Catenaccio disse...

Bom texto Pedro!

Aos poucos, os orgãos/meios de comunicação tradicionais, quer se trate de informação televisiva, quer da imprensa escrita, começam a dar lugar às velocidade vertiginosa das redes sociais, em que cada cidadão é um i jornalista em potência.

Com as maravilhas tecnológicas do 4G, a revolução na transmissão de notícias, que já está em marcha, irá arrancar definitivamente. A ideia que tenho é que, no futuro, não fará sentido ter uma televisão na sala, um computador no escritório, a aparelhagem noutro lado qualquer: tudo será 'portátil' e centralizado num gadget de elevadas funcionalidades que reúne tudo.

Quando essa realidade multimedia, em estado online, for uma realidade massificada, lá estarei atrás da baliza 'grande', pronto a dar a notícia em primeira mão.

Abraço!