quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Este não é um post sobre o livro de Alain de Botton

De repente deu me uma fúria e desatei a “matar” livros que ando a ler…, há anos. Não é exagero. E só me apercebo que são anos e não meses porque tenho o hábito de rabiscar algumas notas (que nada têm a ver com o livro) nos marcadores – coisas estranhas como a hora de um voo, a marca e modelo de um avião, uma pequena lista de compras ou o endereço de correio electrónico da simpática italiana que vai a viagem quase toda a dormitar com a cabeça no nosso ombro (apenas sonhei com esta ultima, obviamente).

“Quando considero…o pequeno espaço que ocupo e que vejo, devorado pela imensidão infinita dos espaços que ignoro e que me ignoram, enche-me de terror e espanto achar-me aqui e não ali, porque não há razão alguma para estar aqui e não ali, agora e não outrora. Quem me pôs aqui?”

De repente deu me uma fúria, disse eu.
Compartilho inteiramente este dilema com Pascal (que ao que me contam morreu louco) citado por Alain de Botton no seu magnífico “A Arte de Viajar”. Quem me pôs aqui, neste tempo e lugar questiono eu tantas vezes. Porque não tivémos a sorte de nascer na Gold Coast australiana ou o azar de nascer em Port-au-Prince? Por que razão não tivémos a sorte de nascer agora? Por que diabo não tivémos o azar de nascer há dois mil anos? [vês Nuno, nunca mais me esqueci desta (link) lição].

De repente deu me uma fúria, disse eu.
“Toda a infelicidade dos homens tem por única origem não saberem ficar sossegados nos seus aposentos”. Botton recorda-nos também este axioma de Pascal. É tão bom estar aqui e agora a escrever este texto que sei de antemão não será lido por ninguém e muito menos citado ou comentado ou sequer vilipendiado. É uma espécie de masturbação intelectual. No fundo, no fundo, a felicidade absoluta é termos os nossos quinze minutos de fama. Não para o mundo ou sequer para quinze pessoas; mas sim quinze minutos de fama para nós mesmos. Olha para mim aqui a escrever este post. Olha para mim Pedro Manuel e vê como sou famoso.

Eu bem avisei que de repente me deu uma fúria.
Enche-me de terror e espanto “A Arte de Viajar”; é um livro delicioso – deve ter sido por isso que levei tanto tempo a termina-lo. Ah, saborear.

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