quarta-feira, 15 de abril de 2009

O sentido e o poder

A quase unanimidade de opinião dos comentadores habituais da nossa praça pública no que respeita ao tardio anúncio do PSD sobre o seu candidato charneira às próximas eleições europeias é mais um sinal de como é difícil fazer-se política sem uma certa mediomania, isto é, sem alimentar os media e os seus "mediáticos". A ténue fronteira entre a função veículo processador entre os factos e a informação (mediação) e a função de sobrevivência numa economia comunicacional e tecnológica das relações de poder, ficou bem patente, na minha opinião, no episódio pré-eleitoral "PSD-PE 2009".
O grande ponto essencial deste episódio, e é caso para merecida profunda reflexão, não é perguntar por que quase todos acham que o anúncio foi tardio ou que o PSD começou mal ou que partiu já em desvantagem para a campanha eleitoral; esta ordem de interrrogações, na verdade, nem fazem sentido na perspectiva estratégica de conhecer primeiro as armas do inimigo como um elemento fundamental para se gizar o melhor plano (general) de combate para fazer frente ao inimigo.
A grande questão essencial encontra-se reflectida no profundo deserto de novos políticos elegíveis nas listas dos partidos políticos representados na câmara única nacional, associada ao pleno reconhecimento e "mérito" dos lugares do parlamento europeu como um prémio de bom comportamento ou de excepcional espírito de sacrifício pelos serviços prestados à nação partidária.
Tudo junto, faz justiça ao desmerecido desprezo que os portugueses depositam na eleição luso-europeia da sua conta democrático-participativa. A bem ver, desde que, neste século, o poder hegemónico das TIC e dos media é avassalador, ao ponto de criar uma matriz cultural e para-neurológica do pensamento e acção de todos os membros activos de uma sociedade, que as massas e as elites já não são o que eram, dificilmente se distinguem e, portanto, fica cada vez mais difícil disfarçar o ser com o dever ser, mesmo para os mais autênticos ou idealistas.
Ou seja, o mundo vai por si mesmo, como uma mão invisível, desregulado e inautêntico, onde se diz o que não se pensa e se ouve o que não é.
Em resumo, os media abrem opinião aos mediáticos, estes alimentam aqueles e os actores políticos agem considerando ambos e as massas vão-se convencendo de que todos se apadrinham mutuamente, desvalorizando progressivamente qualquer esforço, novo ou velho, em nome do bem comum. Esta dimensão da nossa realidade resultará, no curto-prazo, na minaz fatalista dos que pretendem pisar o terreno político. Como já dizia um célebre sociólogo, as elites tendem a agir para a sua perpetuação. Qualquer dia, para um cidadão comum caminhar num campo destes sem a ajuda daquelas (que é quem, refira-se, coloca as minas e, consequentemente, sabe onde elas estão!) e se esse cidadão pretender preservar a sua integridade, é tão provável singrar, quanto a existência do Pai Natal. A comparação nem parece ser má de todo: aparece de vez em quando, periodicamente, promete a fantasia da realidade e tanto ele finge que é o que parece, como nós dissimulamos que oferece aquilo que não tem e é de todos.

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