segunda-feira, 23 de abril de 2007

Campo Contra Campo (LXXXII)

Começo a ficar rendido ao IndieLisboa. Lá me vou orientando no vasto programa e nesse maravilhoso mundo das diferente secções que um festival de cinema pode conter. È estranho assistir a um filme junto do seu realizador e mais estranho ainda bem do lado da cadeira do júri. E não é que as palmas no final da sessão (coisa praticamente impossível numa ida "normal" ao cinema) transmitem uma ideia do que público achou da película?

Excursão, ****

Em 24 minutos Leonor Noivo oferece-nos uma viagem documental ao passado. Ou não. Leonor atira-nos para o seio de um grupo de reformados excursionista que pagou cerca de quinze euros por duas refeições e uma sessão de venda de "banha da cobra". E com este singelo truque faz-nos embarcar numa viagem que nunca faríamos, que desconhecemos de todo, mas que está lá, existe. E o que está lá também é Portugal. É parte do país real. É Portugal de 2006 mas podia ser o de 1976 ou mesmo de 1946. Mais bem arreado, é certo. Sendo certo também que a "banha da cobra" vem hoje com sotaque tropical. E evangélico. Um retracto confrangedor, triste. Quase angustiante. Mas que talvez ajude a compreender muito do que somos. Leonor conhece o cinema. Sabe o que é filmar. Fiquem atentos.

""EX"", ***

Outro retracto documental de um país desconhecido. O alvo de Miguel Clara Vasconcelos são aqueles que dizem ver (ou gostariam de…) objectos voadores não identificados. Há mesmo quem jure - e apresente documentos probatórios - que foi raptado por aliens. Entre o tom serio e o tom à beira da doença mental há de tudo. Sendo que esse tudo está junto à nossa porta. O realizador arrisca muito na recolha dos depoimentos, em especial no ultimo com estrutura para abalar a fé de milhões (?). Mas a câmara não acompanha a palavra. Chega a ser banal, quase de reportagem para o "jornal das oito". Esperávamos mais, depois de ouvir o realizador no sábado passado no "Fala com ela" da Radar.

Analog Days, ****

Na competição Internacional esta primeira longa do norte americano Mike Ott surpreende pela frescura. Um grupo de amigos de varias idades mas todos na complexa fronteira da adolescência para a idade adulta é filmado com classe clássica mas dinâmica e bem disposta. São varias as boas surpresas: excelente fotografia, "indie" banda sonora mas sobretudo a forma de harmónio como o filme chega até nós. Aqui Ott apresenta uma maturidade cinematográfica rara mas vigorosa. Gostei muito.
Repete quarta-feira às 19h. no Fórum Lisboa.

PSL

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