domingo, 3 de maio de 2009

Um partido político positivo, por favor! (2.ª parte)

A política ainda é feita e avaliada pela marcação das agendas internas e pessoais, e segundo os timings e padrões mediáticos, delineados segundo a segundo, palavra a palavra, postura a postura. Aquela não reflecte o que o país pensa, nomeadamente no que respeita aos jogos da oposição e da desvalorização do adversário. Não conheço nenhum cidadão "apolítico", desde os menos instruídos aos desinteressados, que não defenda a verdade e transparência que acima referi, ou que não gostasse de ver realizada uma valorização desinteressada dos adversários, sem reservas ou minorações personalizadas. Esta realidade fáctica não deve, contudo, omitir a idealidade política, pois o objectivo puro e ancestral da política é o poder, ou seja, ganhar eleições e não propriamente cidadãos ou militantes. Com esta táctica limitadora, os não praticantes da política raramente ganham eleições, quanto muito contribuem para a selecção dos eleitos. O processo democrático ou político, incluindo os seus críticos, enquadra-se, cada vez mais, num sistema autopoiético da crítica ao exercício do poder: uns, queixam-se de que não conseguem chegar ao topo dos partidos; outros, supondo um sistema fechado e maratonista de contorcionismos ideológicos e pragmáticos rejeitam à partida qualquer cumplicidade formal com os partidos. Mas nem sempre o que parece, é. Recordo uma queixa de António Borges há uns anos sobre a quase impossibilidade de alguém, sem carreira partidária ou política, chegar à gestão de topo partidária. Pois bem, desde o ano passado que este senhor é vice-presidente do maior partido da oposição, estando, portanto, num excelente posicionamento para ser membro do governo, ou mesmo chefe de um futuro governo, no caso, do PSD. Outros casos de mobilidade política partidária, como os renegados, os expulsos ou mesmo os “trasladados” políticos, por vezes na condição de deputado, são casos reais da política portuguesa. O sistema é, assim, retro-alimentado, notando-se um fio condutor dominante e hegemónico: a (pequena e deslegitimada) elite.
De certo modo, portanto, as oportunidades políticas e partidárias existem no sistema português. O sistema político português, sendo um sistema híbrido de várias matrizes políticas regimentais oferece essa virtude. O sistema partidário, dada a pressão/exposição da comunicação pública e o fornecimento de nova "matéria-prima" como condição de uma politica renovada do candidato partidário eleito também funcionam como válvulas de abertura e de um limitado "rejuvenescimento" de mérito, designadamente da sociedade civil profissional, artística ou desportiva. Mas não deixam de resultar em soluções artificiais, temporárias ou de expectativas frustradas. Funcionando como meros "jokers" ou cartadas "fora do baralho", dificilmente acabam por ser relevantes para os diversos jogos partidários que exigem outros trunfos.
Concluindo, para já, a característica falta de iniciativa política interventiva portuguesa, bem como a habitual manutenção dos velhos esquemas e mecanismos de organização, funcionamento e participação partidárias, assim como a dependência destes em relação ao Estado, não oferecem as melhores condições para termos partidos políticos “positivos” e participados com cidadãos militantes heterogéneos e desformatados da realidade intra-partidária. Quando a política não imita a vida de uma sociedade, ela acaba por ser o reflexo de uma minoria que se auto-alimenta por regras próprias e um “código de carreira”, típicos de uma elite política gasta, incapaz de se renovar ideologicamente e de criar líderes globais, estratégicos e universais. Um mal democrático menor, é certo, mas com uma cara factura democrática e governativa a pagar pelos legítimos soberanos.

Sem comentários: