segunda-feira, 14 de abril de 2008

Campo Contra Campo (CXI)

Stellet Licht, Luz Silenciosa, ****

Até hoje, o nome do cineasta mexicano Carlos Reygadas era-me totalmente desconhecido. Agora, duvido que algum dia o esqueça. Não vi "Japon", nem "Batalla en el cielo" (anteriores obras de Reygadas) que dizem os escribas ter dividido o coração do público. Consta que uns amam, outros odeiam, o realizador mexicano. Ora que novidade…
Em duas linhas, "Luz Silenciosa" segue na sombra de um agricultor da região de Chihuahua no Norte do México, profundamente crente, inserido numa comunidade Menonita (protestantismo ortodoxo - se é que a expressão faz algum sentido), pai de família com seis filhos a seu cargo que se apaixona por uma outra mulher. Das tensões e contradições desta historia (aparentemente) simples faz-se um filme notável que fica a "centímetros" de ser uma obra-prima.
Mas não é fácil entrar em "Luz Silenciosa". Habituado a trabalhar depressa demais, o nosso cérebro tem dificuldade em dar espaço aos sentidos. Na primeira metade do filme, não é a câmara que vai ao encontro da acção. A câmara fica e a caravana passa; sublime. Depois, o espectador fica preso ao silêncio da luz quente. E recorda-se das obras maiores de mestres como Terence Mallick, Lars Von Trier, Abbas Kiarostami, mas, sobretudo, desse gigante que por cá poucos conhecem: Carl Theodor Dreyer. Reygadas não esconde que os ama. Nem tem de esconder. Alias é do sumptuoso "Ordet" de Dryer (provavelmente o filme mais maravilhoso que já vi) que a Luz de Reygadas emana.
Apenas mais uma nota só: quebrado uma "regra" desta minha serie, escolho como imagem para ilustrar este post o cartaz oficial do filme. Por uma simples razão: na simplicidade daquela imagem tão bem iluminada, estará, provavelmente, a síntese de todo o filme de Reygadas.

[Só mais uma coisa. Não sei se o Pedro Correia já viu este filme. Se não, ouso sugerir que não o perca (não vá o diabo leva-lo rapidamente). Se sim, "exijo-lhe" algumas "fitas cortadas" sobre o mesmo.]

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