sexta-feira, 27 de julho de 2007

O mercado e a eugenia

Pese embora vivermos num país civilizado e no século XXI, a verdade é que por vezes deparamo-nos com situações perfeitamente aberrantes. Nesta época em que toda a gente tem de ser "gente bonita", todos aqueles que não o são, seja por serem "feios", seja por não estarem na corrente dominante, vão sofrendo silenciosamente um movimento centrífugo, nascido de uma ideia (não confessada, claro!) de eugenia social: só são bons os giros e os normais.

Pois bem, discutindo-se ainda a liberdade dos estabelecimentos no sentido de decidirem se aceitam ou não fumadores nos seus recintos, eis que surge uma notícia que ilustra bem as consequências nefastas de deixar ao mercado decidir quem é e quem não é aceitável para entrar num estabelecimento de porta aberta:


Um grupo de 23 pessoas com deficiência ligeira (física e mental), todas adultas, integrava a colónia de férias da Cooperativa de Solidariedade Social Cercipóvoa, da Póvoa de Santa Iria. Maria João Aires, uma das monitoras que esteve no local, conta como tudo se passou. O grupo chegou ao Hawaii por volta das 23h00 e durante cerca de uma hora divertiu-se, dançou e, segundo a monitora, “interagiu com os outros clientes”. Hora e meia depois um dos funcionários do estabelecimento informou Maria João Aires de que este iria fechar, devido a um problema técnico, convidando-os a pagar e a sair.A monitora confessa ter achado estranho, pois os outros clientes não estariam a ser avisados do mesmo problema.
Decidiu permanecer. Minutos depois é dada indicação de que o bar iria mesmo encerrar. O grupo sai, juntamente com os outros clientes, só que estes permanecem junto à porta, de copo na mão. “Disseram-me que iria fechar e já não voltaria a abrir, mas estavam a pedir aos outros para não se irem embora”, disse ao Correio da Manhã. Maria João Aires decidiu mandar o grupo embora e esconder-se ali perto. O que viu chocou-a: “Automaticamente as portas abriram-se e o bar voltou a funcionar em pleno.” A monitora voltou a aproximar-se do bar para pedir o Livro de Reclamações, mas responderam-lhe que “nem sequer existia”, apesar de uma referência à sua existência na porta do estabelecimento.Chamou então a PSP e foram os agentes da esquadra do Calvário que exigiram o Livro de Reclamações. Este foi novamente recusado pelo funcionário do Hawaii, argumentando que o bar não havia prestado qualquer tipo de serviço ao grupo. Maria João Aires não pensou duas vezes. Sacou do comprovativo da despesa e mostrou-o: 75 euros, relativos a 29 bebidas consumidas. Só nessa altura o livro surgiu. (correio da manhã)

Caros leitores, a partir de agora "Hawaii" só o arquipélago!

1 comentário:

Pedro Soares Lourenço disse...

Desculpa lá Nuno, mas há aqui pelo menos uma coisa que não entendo: o que é que o “ente” abstracto mercado tem a ver com a pessoa perfeitamente identificável e identificada gerente desse bar manhoso?
Um gerente (verdadeiramente) autista não faz a primavera, muito menos o verão.

Etiquetas: Aíííí uma polémica(zinha)…, que saudades de uma polémica(zinha).