Somos um país pobre de dinheiro e rico em capital humano. Mas por vezes esse capital extravasa os limites das leis penais. O último relatório do Transparency é assustador. Como nele se refere, a corrupção está a afectar cada vez mais os cidadãos comuns, no seu dia-a-dia, também em Portugal. Eu materializo: a corrupção está a destruir pessoas, famílias e empresas e, com a crise económica e social, está a expandir-se explosivamente. Não estar alinhado com ela ou lutar contra ela, ou falar dela sequer, constituem posições de risco, se não mesmo de grande sacrifício pessoal e profissional. As pessoas não querem perder o cargo, o emprego, a sua imagem de (bem)sucedido profissionalmente perante si, sua família, seus amigos. As pessoas são obrigadas a escolher entre enterrar o seu capital humano, a sua criatividade, a sua liberdade, a sua esperança numa vida melhor e o de servir as espumas do quotidiano controladas por elites unicamente focadas na manutenção e aumento do seu poder. E aqui o combate é ganho por aqueles que contam com a resignação, a indolência, a descrença, a alienação dos que votam, opinam e trabalham, mas que, felizmente, não têm tempo, saber, poder ou determinação suficientes para melhor mudar! Os corruptos contam com isso e contam também em participar no próprio processo de combate à corrupção para não desmentir a célebre frase de Tancredi, Princípe de Falconeri em O Leopardo.
Cada português tem que tomar consciência e responsabilizar-se pelas decisões e cedências que toma, por acção e por omissão, nos apoios e críticas que faz nos seus espaços de (com)vivência e intervenção (sufrágio, redes sociais, activismo cívico, etc). Se não o quer fazer activamente, no mínimo, deve ajudar quem procura combater este vulcão criminoso. A corrupção é como a massa do vulcão: pressiona o substrato como manto, transforma-se em magma depois de o quebrar e rompe a crosta em lava. E durante todo o processo consome a estrutura e os recursos do vulcão. Ela está e estará portanto sempre presente na nossa sociedade, pressionando, queimando, irrompendo, em indivíduos, famílias, empresas, e demais organizações e instituições; numa palavra, consome o que somos e o que podemos ser. A corrupção empobrece-nos e submerge-nos numa batalha individual e comunitária dura e latente. A lava não se expurga: ou se previne ou nos destrói.
1 comentário:
Parabéns pelo post. Apesar de algo atrasado... pois a corrupção é visível há muitos anos. O relatório citado apenas a confirma.
Aceitam-se sugestões para o cidadão comum a enfrentar...
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