“A Autobiografia de Nicolae Ceausescu” (***)
“Duas pernas não, quatro patas sim!”
Ontem à tarde virei-me para um colega de trabalho e disse-lhe que ia ver “A Autobiografia de Nicolae Ceausescu”. Ele encolheu os ombros. Perguntei-lhe se sabia quem era Nicolae Ceausescu. Ele franziu os lábios, dizendo-me que já não se lembrava bem.
“Duas pernas sim, quatro patas não!”
Não comungo do aplauso generalizado que a critica nacional atribui ao filme. “A Autobiografia de Nicolae Ceausescu” faz jus ao título. Desenvolve-se como se o próprio ditador tivesse sido o autor do filme. O resultado acaba por ser contraproducente. “Duas pernas não, quatro patas sim!”; uma visão totalmente acrítica e perfeitamente legitimadora de um regime obsceno, de um sistema político e económico demente. Aliás, às duas por três (horas de filme, ufff…) começamos a pensar se aquela gente não viveria (ou achava que vivia) num planeta que não o nosso. E pensamos também…, como é possível que hoje em dia cerca de vinte por cento do eleitorado português vota em partidos que sub-repticiamente – ou nem tanto - continuam a defender um sistema assim.
Assim, gente como o meu colega, que viveu o tempo suficiente para saber o que significa a pornografia do Socialismo Científico e do Comunismo, caso visse o filme, ficaria, absolutamente na mesma.
Fica todavia um árduo trabalho de pesquisa e selecção e um magnífico documento histórico – coisas que, no fim, abundam por esse mundo fora.
2 comentários:
Finalmente...
alguém que achou o filme como uma massagem ao ego do Ceausescu.
Vi o filme na ante-estreia, ganhei bilhetes via take para a sessão e lá fui eu, com direito a bilhetes duplos mas usufruindo apenas de um.
Cheguei ao fim a pensar num documentário mal feito. Pensei na história do país e apercebi-me que só mostraram o homem...
Reparaste no pormenor das visitas à China ?
“Massagem ao ego do Ceausescu”? Penso não ter sido esse o objectivo do realizador; muito pelo contrario. No entanto é um pouco esse o produto final.
Das “visitas”…, as que mais me surpreenderam forma a de Nixon à Roménia e a do próprio Ceausescu à América de Jimmy Cárter. Confesso que as desconhecia de todo; sob o ponto de vista político são dois exercícios de contorcionismo verdadeiramente apreciáveis, eheh.
Ah…e a visita de Ceausescu a Pyongyang…, a loucura da perfeição…
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