Quando se é verdadeiramente fiel, ou leal, acaba-se por sempre sentir necessidade de regressar, seja a uma música, a um livro, a uma palavra ou a uma pessoa. Com a música de Damien Rice, a voz de Lisa Hannigan e a interpretação de ambos, é impossível não ultrapassar essa barreira invisível do significado pessoal do que ouvimos e sentimos. A indiferença não nada neste lugar musical e vocal. Para mim, ouvir esta música é lembrar-me de um mini balanço do passado recente, de fazer uma auto-avaliação ou correcção do caminho que se segue, ou de coisas tão importantes como das melhores ondas que já surfei, do prazer básico das melhores ondas perdidas, da sabedoria retirada das perguntas não respondidas e dos desejos ainda por realizar. É ouvi-la continuamente para que o verbo do pensamento não se perca na memória e se desleixe com a rotina diária obliterante do discernimento da nossa razão e dos objectivos que na vida ainda restam. O toque da música é religiosamente multifacetado, perdido na procura do espaço que todos precisam de preencher numa vida tão medíatizada e populosa, quanto superficial e ilhada. Há músicas que nos chamam ao nosso lugar, aquele que é devido e faz sentido, despido dos trailers evangelizadores que nos tratam como meros seres comunicados, com prejuízo para o diálogo e a contemplação. Há músicas que parecem frias como só a água pode ser, mas essa é a parte visível da nudez rica e feliz que só o humano possui ser. Mesmo no final, seja qual for a perspectiva do resultado, como se pode ver nesta música, ele pode escalar em extâse e contentamento.
3 comentários:
Que boa surpresa encontrar uma música como esta!!
O texto... outra agradável surpresa!!! :-)
Excelente post ;)
Maravilhoso!Parabéns pelo texto!
Enviar um comentário