domingo, 16 de setembro de 2007

Do choque e do espanto

Compro a Atlântico essencialmente por dois motivos: porque acho que um projecto em forma de revista de ideias e debates de matriz marcadamente liberal faz falta num país amorfo como Portugal devendo como tal ser apoiado e porque o que por lá se escreve é feito com paixão, digno de ser lido e analisado.

Vem isto a propósito de um episodio que se passou comigo há uns tempos e que me deixou, no mínimo, desconfortável.

Alguma vez sentiram-se descriminados (afastados) por perfilharem dada ideia politica?
Nunca ouviram algo como, foste afastado não tanto pelo factor y ou z mas sim porque és de direita.

Confesso que foi a primeira vez que alguém me disse tal coisa. Foi um choque e não o escondi. Em especial porque não foi um pensamento leviano. A “tal coisa” produziu efeitos. Ora, preterido porque perfilho uma dada concepção do politica.

O caso, digamos assim, teve alguns aspectos positivos. Deu para sentir muito ligeiramente o que pode significar viver numa sociedade fechada, onde as ideias politicas e sociais convergem num dado sentido e valor unicos. Não gostei da sensação de claustrofobia.

Mas será razoável que oiçamos em pleno século XXI de uma boca jovem e culta as palavras “afastado por seres de direita”?

Tal apenas me parece razoável por um de dois motivos: manifesta má fé – o que afasto do caso em concreto – ou lamentável ignorância. Sim, uma pessoa pode ser culta e ignorante ao mesmo tempo. Eu por exemplo sinto-me medianamente culto mas sou um perfeito ignorante quanto ao Origami, por exemplo. Contudo, o desconhecimento da essência de tal arte, impede-me liminarmente de efectuar juízos de valor de quem gosta ou deixa de gostar de fazer tais bonequinhos em papel.

É aqui, nesta função de educar e formar que revistas como a Atlântico desempenham um papel fundamental. Querem um exemplo? No número deste mês Carlos do Carmo Carapinha escreve um artigo soberbo (Notas de um Conservador), onde traduz com clareza o que deve ser entendido por espírito (de um) conservador.
Embora correndo o risco de as desvirtuar não resisto a citar aqui algumas das palavras de CCC: “O que eu queria mesmo era referir-me ao que o conservadorismo não é. Não é reaccionarismo, não é saudosismo, não é “tradicionalismo”, não é autoritarismo.(…). É um facto que o conservador preza a ordem e a segurança. Preza-as porque preza a paz e a liberdade. Qualquer facto ou restrição que impeça o conservador de gozar e viver a vida plenamente em liberdade – o medo ou a violência, por exemplo – constitui um anátema".

Terei sido claro?

1 comentário:

LR disse...

não sou conservadora. prezo, e muito, a liberdade e a paz. ser de esquerda significaria, de acordo com a tua perspectiva, ser contra a paz e a liberdade? serão "os de esquerda" todos uns ganda malucos, que só querem andar em manifs e armados em revolucionários? não me parece.

quer-me cá parecer que a questão vai muito além do facto de seres de direita. não é o seres de direita que te faz diferente. é o que isso acarreta. e talvez quem te afastou por seres de direita tenha sentido que o facto de seres de direita trazia bónus com os quais não terá sido capaz de lidar. digo eu, que nem percebo nada disto...