É incrível o modo de passar a "notícia" por um lado, e o valor que lhe subjaz, nele implícito. É fundamental conhecer os valores financeiros do défice das entidades públicas, mas deveria ser crucial fazer-se uma "informação" e não ficar por aquilo que estigmatiza a opinião, incluindo a publicada. O défice per si incomoda-me, mas incomoda-me mais os media pensarem que de cidadão me transformam em seu cliente com um simples "soundbyte" não questionado ou aprofundado. Onde estão as respostas às famosas perguntas da escola de jornalismos e porque nem sequer tentam ou declaram que tentaram? Os relatórios de actividades estão disponíveis, bem como os planos, bem como os contratos, porque não há investigação jornalística nesta matéria? esta situação aproveita a alguém?
Como cidadão interessa-me saber o valor do défice, mas quero também saber porque a PE,EPE teve esse défice? Houve "directivas" políticas? Que opções de gestão havia? Os processos foram legais e transparentes? Quem sabia do défice e não agiu em conformidade? Estas práticas também devem ser "noticiosas" e vão para além da competência da getsão, pois também é importante ser competente na noticiação: de modo genérico, ambas fazem parte do sistema que vulgarmente se denomina de "accountability".
Por outro lado, fazer passar a mensagem de que ter défice, per si, é uma coisa negativa e que, consequentemente, o sector público é incompetente, impreparado para a gestão ou corrupto é não entender a natureza e finalidade do sector público, as práticas legitimadas e beneficiadas pelos cidadãos, os constrangimentos jurídicos e políticos específicos do sector e, consequentemente, a diferença substantiva que existe entre a gestão "pública" e a gestão privada. Que fique claro, ter défice é mau, é sempre de evitar, mas não necessariamente e sempre mau e evitável para o interesse público. Quem não percebe esta asserção "real", ou não conhece a problemática ou finge que não vê o "elefante na sala". Pode sim defender-se a extinção ou redução da gestão "pública", está no "seu direito" e é legítimo, mas então que mudem as regras, as leis, as restrições, as prioridades, as políticas, os serviços, e até algumas pessoas, com coerência e determinação, nas diversas faces da privatização e da politização, embora provavelmente ter-se-ia uma surpresa, tal como sucedeu na Nova Zelândia, Canádá ou Austrália (que, ainda por cima, são mais ricos que nós).
Portanto, seja-se megafonista ou economicista (incluindo os reconvertido recentes) da crise e dos costumes, mas apure-se a verdade, explique-se o gigantismo do défice, quem foi beneficiado (e prejudicado), responsabilize-se sem excepção quem violou regras e valores do nosso sistema jurídico-democrático, extingam-se privilégios, reescreva-se as desigualdades remuneratórias existentes, entre outros males, mas forneça-se publicamente os dados para se formar opinião, todos os dados essenciais e exigíveis nesta matéria, ou seja, aqueles que estão subjacentes aos valores que supostamente motivam a indignação do soundbyte.
Não se confunda o criador (sistema normativo) com a(s) criatura(s) (nós!), pois estes preconceitos em nada contribuem para o revigoramento do bem comum e para a confiança no sistema social e político, actualmente pilares essenciais para o regresso rápido ao crescimento e bem estar nacionais.
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