sexta-feira, 29 de abril de 2011

Uma obra-prima da Herança da Humanidade

Seis e meia da manhã. Toca o despertador no quarto 219 do Íbis de Marraquexe. Durmo no Íbis - e não num charmoso Riad bem no coração da Medina - junto à moderna e lindíssima gare central da cidade na Avenida Hassan II porque o hotel, tal como a gare, é isso mesmo: central. Fica junto a uma praça que marca o final da estrada de onde eu vinha: Essaouira. E essa mesma praça me envia directamente para a estrada para onde terei de ir hoje (ontem): Casablanca; e depois Tanger e depois Tarifa e Sevilha e enfim Lisboa.

Pouco depois das sete da manhã. Discuto pela enésima vez com um putativo “gardian de l’ auto”. Desta feita recuso-me vigorosamente a ser (mais uma vez!) extorquido e pago apenas um quinto do valor pedido. Esta é a pior face marroquina. Gente e mais gente que quer ganhar dinheiro fácil sem fazer rigorosamente nada para tal. A culpa é nossa do turista ocidental…, que acha graça e vai colaborando na jogada.

Ainda não são sete e meia da manhã. Subo a Boulevard Abdelkim Al Khattabi em direcção à estrada que me levará à longa viagem de regresso. Pelo menos pela segunda vez nesta viagem escapo por um nanossegundo ao acidente rodoviário. Em Sifi Ifni quase atropelei um tresloucado que saiu de um mini -bus em direcção à estrada sem olhar para lugar nenhum. Aqui foi mesmo um mini-bus que faz inversão de marcha em cima de um risco contínuo. Desta feita foi mesmo rés-vez.

Tanger, porto, perto das duas da tarde. Por poucos minutos perco o ferry para Tarifa. Fico ali a olhar enquanto o enorme barco parte, preso nos ridículos procedimentos de segurança da fronteira marroquina. Fico com a sensação que poderia ter trazido os quilos de haxixe que me apetecesse e fico com a certeza de que não vou estar logo à noite (ontem à noite) na Catedral para ver o nosso Querido Clube numa meia-final europeia.

Já no deck do enorme barco fico a saber via telemóvel o que se tinha passado nessa manhã no coração da cidade onde de manhã cedo tinha acordado. Na altura nem me apercebi bem da factualidade…, só mais tarde, primeiro a ouvir a Cadena Ser enquanto cruzava já noite cerrada a serra de Aracena, depois já em casa a ler os jornais on line, é que apercebo dos factos.

No inicio deste milénio a UNESCO baptizou o local deste atentado, a Praça Jemaa el-Fnaa, nem mais nem menos como “obra-prima da Herança da Humanidade”. Com esta é a terceira vez que visito este local único. E estas são as palavras certas para descrever o que é a Praça Jemaa el-Fna. Praça a que nenhuma imagem faz jus. Só mesmo estas palavras que repito: obra-prima da Herança da Humanidade.

O silogismo final de tudo isto é simples para quem leu este texto com a mínima atenção. Sobreviver não é nada de especial. No Rossio ou na Jemaa el-Fna no delta do Nilo ou do Mekong, numa estrada alemã ou vietnamita. Milhares de milhões sobrevivem à sua maneira diariamente. A sorte de um homem é escapar, diz-se.

Duro, duro é ver que apesar de dezenas de séculos de Historia, Cultura e Desenvolvimento a natureza humana é tão rica mas ao mesmo tempo tão negra que continua a produzir indivíduos (e grupos de indivíduos) autofágicos que têm apenas como escopo a tentativa de eliminar a profunda riqueza da sua própria raça.

Nunca o conseguirão; nunca!

Alívio

Foi com algum alívio que vi o Pedro Soares Lourenço no Facebook dizer que já não estava no café Argana, em Marraquexe, no momento do atentado.
Ainda assim, sendo um destino frequente para os portugueses, convém manter alguma atenção aos relatórios de segurança que forem sendo emitidos pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A PSP no Benfica - Porto

Antes do vergonhoso "onze inicial" que Jesus escalou para a recepção ao Porto (Jara a médio???), outras vergonhas estiveram presentes junto ao Estádio da Luz.
Falo da forma como a Polícia de "Segurança" Pública empurrou os adeptos do Benfica, famílias, mulheres e crianças ao longo de dezenas de metros da Rua José Maria Nicolau para um beco sem saída. Nenhum dos agentes que nos impedia de utilizar as ruas que normalmente percorremos dizia que o local para onde éramos encaminhados não tinha saída.
O resultado é o que se vê nesta foto:
Assim que desci este barranco para a zona das roullottes (a alternativa era regressar e percorrer quase dois quilómetros) dirigi-me a um agente e pedi, de cidadão para cidadão, para que ele informasse a sua cadeia de comando do local para onde a PSP estava a encaminhar as pessoas.
A resposta foi:
«Nós não somos de Lisboa (notava-se pelo sotaque nortenho), se as pessoas chegam ali e a saída é um barranco, então que se vão embora»
Eu repliquei; disse que bastava deixar as pessoas descerem umas escadas, na base da qual eles estavam.
E ele voltou "à carga":
«Viu as imagens do último jogo? Foi daqui que atiraram pedras para os adeptos do Porto»
Ainda lhe disse que era difícil alguém conseguir atirar pedras ou garrafas a uma distância de 150 metros, mas desisti.
Percebi que para a Polícia de "Segurança" Pública havia dois tipos de adeptos: os cordeiros portistas e os lobos benfiquistas. E tive pena de ele ser um agente da autoridade e eu apenas um cidadão...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Listas

Os cabeças de lista do PSD às próximas legislativas integram "comentadores" assíduos dos canais de notícias que zurziram forte e feio no governo de Sócrates... Desde o insuspeito Manuel Meirinho a Carlos Moedas, passando pelo Carlos Abreu Amorim. Nota-se que "conflito de interesses" é qualquer coisa que escapa a esta malta...

Está uma rica tarde para…

Ler o Nuno Dias da Silva (link)
Ver a forma absolutamente perfeita do mar no dia um (ontem) do O’Neill Coldwater Classic na Escócia (link).
Responder a esta questão (link).

sábado, 9 de abril de 2011

Arcádia no Congresso do PS

A representação do Partido Socialista Europeu no XVII Congresso do PS reforça a proposta da criação de uma taxa de 0,05% sobre as transacções financeiras, como forma de combater a crise: seriam 200.000 milhões de euros por ano só na Europa.
Um assunto cada vez mais difícil de ser ignorado.

Dois terços do Arcádia no Congresso do PS


Para já, aqui fica uma foto minha e do Ruben Eiras. Assim que possa, caso a bateria o permita, colocarei uma foto de dois terços do Arcádia no XVII Congresso do PS: eu e o Nuno Rolo.

Não estamos em tempo de embarcar em aventuras perigosas

O partido LOL montou o circo em Matosinhos e a cabeça do polvo proclamou prontamente: "Não estamos em tempo de embarcar em aventuras perigosas".

Por uma vez concordo com Sócrates. Hoje, por exemplo, ficámos a saber que o número de casais desempregados subiu 171% em quatro meses. Os casais em que nenhum dos cônjuges tem emprego passaram de 1530 em Outubro para 4152 em Janeiro (link).

Temos mesmo de concordar com Sócrates. Aventura perigosa (e suicida) foi nele confiar os destinos do país não uma mas sim duas vezes.

Já basta. Como diz hoje Manuel Queiroz, ontem houve mais "Portugalling" na forma como José Sócrates contou outra vez a história do bandido sobre o que aconteceu com o pedido de ajuda externa, que todas as evidências apontam que era inevitável depois de se dobrar a dívida portuguesa em seis anos. Dizer que a culpa é dos outros, da oposição, quando o país não aguentou duas semanas de demissão do governo, é coisa que nenhum português conseguirá compreender, fora eventualmente aqueles que estavam ontem à noite a ouvir o líder na Exponor (link).

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Eu hoje acordei assim



Ainda mal tinha aberto a pestana e cruzei me acidentalmente com esta musica. E não se por que raio me emociono até às lágrimas sempre que a oiço assim, acidentalmente. Era só mesmo para dizer isto.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O dilema

Era este o profundo dilema de Sócrates num dia como hoje.
Vale o velho adágio: uma imagem vale mais do que mil palavras.

De corda ao pescoço

«Chegado tinha o prazo prometido,

Em que o Rei Castelhano já aguardava

Que o Príncipe, a seu mando sometido.

Lhe desse a obediência que esperava.

Vendo Egas que ficava fementido,

O que dele Castela não cuidava,

Determina de dar a doce vida

A troco da palavra mal cumprida.


«E com seus filhos e mulher se parte

A alevantar co eles a fiança,

Descalços e despidos, de tal arte

Que mais move a piedade que a vingança. -

«Se pretendes, Rei alto, de vingar-te

De minha temerária confiança

(Dizia) eis aqui venho oferecido

A te pagar co a vida o prometido

Pede antes ao Sócrates, pá!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Abanar a anca cinco minutos por dia nem sabe o bem que lhe fazia (XXXVIII)

De regresso a uma serie arcadiana quase perdida…, num dia em que é mesmo necessário abanar o esqueleto para afastar fantasmas e afins. Com os KLF…, a 12 polegadas…, essa reminiscência do século passado.


domingo, 3 de abril de 2011

Para alguma coisa há-de servir...

Ó Jesus, pega na comissão que recebeste pela transferência do Roberto e renova os RedPass da malta!

sábado, 2 de abril de 2011

Agora sim, é tempo de utopias

Ao contrário do que diz Cavaco, este é o tempo de olhar o futuro que queremos e caminhar nesse sentido. É o tempo em que devemos olhar os que nos falam de culpa e expiação, de pecado e contrição e sorrir-lhes com desdém.
O futuro está nas nossas mãos e, ao contrário do que diz Cavaco, são dias inteiros que só dependem de nós.
Sabemos onde errámos? Sim. Errámos ao pensar que um presente confortável nos daria um futuro seguro. Errámos ao não desconfiar daqueles que nos governaram nos últimos trinta anos e que construíram um país à sua medida e que estamos a pagar. Com juros cada vez mais altos.
Ao contrário do que diz Cavaco, agora sim, é tempo de utopias. De sonho. De ambição.

To dream the impossible dream
To fight the unbeatable foe
To bear with unbearable sorrow
To run where the brave dare not go

To right the unrightable wrong
To love pure and chaste from afar
To try when your arms are too weary
To reach the unreachable star

This is my quest
To follow that star
No matter how hopeless
No matter how far

To fight for the right
Without question or pause
To be willing to march into Hell
For a heavenly cause

And I know if I'll only be true
To this glorious quest
That my heart will lie peaceful and calm
When I'm laid to my rest

And the world will be better for this
That one man, scorned and covered with scars
Still strove with his last ounce of courage
To reach the unreachable star

Da usura

O que São Basílio Magno (séc. IV) escreveu sobre a usura é temível: "Os cães, quando recebem algo, ficam mansos; mas o usurário, quando embolsa o seu dinheiro, irrita-se tremendamente. Não cessa de ladrar, pedindo sempre mais... Mal recebeu o dinheiro e já está a pedir o dinheiro do mês em curso. E este dinheiro emprestado gera mal atrás de mal, e assim até ao infinito." Por isso, o Concílio de Latrão, em 1179, proibiu aceitar esmolas dos usurários, admiti-los à comunhão e dar--lhes sepultura cristã.

Hoje a isto chama-se os mercados financeiros, com a sua lógica devoradoramente insaciável. Portugal sabe-o por experiência. Quem não viu veja e quem viu reveja Inside Job.

Anselmo Borge, Diário de Notícias