segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Campo Contra Campo (LXXXIX)

Num rarissimo rasgo do exibidor, sessão dupla, como todas as sessões deveriam ser. Uma curta, outra longa. Comecemos pelo fim para acabar bem.

O Sabor da Melancia, ***
Sublime, fantástico, sensual, pornográfico, uma historia de amor. Palavras e expressões amplamente utilizadas para caracterizar o filme de Tsai Ming-liang. Assim será?
Há tempos idos li por ai uma croniqueta de um jovem intelectual da nossa praça sobre uma putativa obra de arte vagamente denominada "merda de artista". Sim é disso mesmo que nos falava. Cagalhões, merda de um qualquer artista (Piero Manzoni) enlatada. Dizem que se vende nas melhores casa de leilões europeias. Não estou a zombar. Ora vejam a foto e leiam aqui, por favor.
Vi poucos filmes que mexem tanto com os conceitos, com as categorias analíticas do nosso pensamento, numa palavra, connosco como este "Sabor". Uma estrela e meia por este estranho e incomodo desassossego na alma. Outra estrela e meia para a plástica. Tsai Ming-liang, de quem nunca tinha visto nada, filma como os grandes. Como Tati, por exemplo - impossível olvidar o mestre francês naquelas estranhas coreografias e naquele sobe e desce, entra-sai das personagens. O resto, senhores. Deixo apenas uma questão. Para quê?

China, China, ****
Cada vez gosto mais de curtas e me flagelo por não ver o único programa de televisão a elas dedicado; noites de domingo na 2:. "China, China" é bela surpresa na forma de uma caixinha de surpresas. O Martim Moniz não traz novidade para quem por lá perto morou durante a infância, adolescência e inicio da idade adulta; para quem amiúde ainda por lá passa e lhe reconhece as sujas esquinas. Geralmente a diferença agrada-me, não me causa repulsa. Dai ter sido bom recordar aquele local (imediatamente reconhecido), filmado com arte no plano inicial desta curta de João Rui Guerra da Mata e João Pedro Rodrigues (este um dos maiores provocadores que o cinema nacional algum dia conheceu, v. g. as longas Fantasma e Odete). "China, China" é mais um retracto (nu, cru, verosímil) sobre os Lisboetas, os novos Lisboetas. As suas íngremes calçadas, os apertados becos e vielas das suas vidas. "China, China": palmas, muitas.

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