Tem sido um fartar vilanagem. Se por cada magnifico dia atlântico tivesse escrito um post, provavelmente já alguém tinha proposto a mudança de nome deste blogue.
Manhãs sublimes de perfeitas paredes azuis claras, quilómetros de húmido prazer, horas de espuma cristalina. Uma ode aos sentidos. Um hino à paixão. Pura liberdade.
Mas tal como toda a moeda não é só cara, todo o momento hedonista traz consigo a sua antítese. Isto de saltitar de praia em praia em busca do mais perfeito trapézio, também nos demonstra que apesar de haver outros como nós, os há ainda absoluta e terrivelmente mais miseráveis que nós.
De facto, nas últimas semanas não tenho encontrado apenas dezenas de ondas perfeitas; tenho ainda encontrado vários exemplares desse género patético que julgava em profunda crise, em inequívocas vias de extinção: os “bad locals”.
A actividade que em “surfês” se convencionou apelidar de localismo – sublinho, têm sido diários os conflitos verbais, alguns deles por pouco não alastram ao confronto físico - é de muito longe, a pior face de uma momento privilegiado que é o doce, simples e belo movimento de namorar uma onda.
Todavia, o localismo tem contornos, digamos, curiosos. Ainda esta manhã, tive de partilhar “O” prazer, com um pobre diabo que quando desliza na superfície húmida da cor do céu no seu quintal, “mete na ordem” tudo o que mexe; mas, hoje, fora do seu habitat natural, o anteriormente abutre mais parecia uma galinha merdosa (ou seria um pinto da costa?), a ver os outros impor o seu surf, enquanto, ávido, desnorteado, esperava intranquilamente que estes lhe deixassem umas míseras migalhas para debicar.
Vem esta lengalenga toda a propósito da curta que se exibe já aqui por baixo. Kooks - selecção oficial da última edição do NY Surf Film Festival - capta de forma perfeita a essência da estupidez humana plasmada nessa aberração que nos chegou dos tempos medievais que é o localismo.
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