quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Esplanar

É de ler a crítica sagaz e incisiva à escrita/obra de Margarida Rebelo Pinto por João Pedro George no seu blogue Esplanar, que conheci por via do Boas Intenções.

Lendo o blogue pela primeira vez, adorei. E a entrevista ao Luiz Pacheco é deliciosa, proporcionando grandes momentos de profunda risada. Reparem só neste excerto quando uma visita, o Armindo, interrompe o decurso da entrevista e bate à porta do quarto:


Visita: “Boa tarde”
Pacheco: “Quem é?”
Visita: “Pacheco?”
Pacheco: “Quem fala?”
Visita: “Aqui é o Armindo”
Pacheco: “É o…?”
Visita: “O Armindo”
Pacheco: “Quem é o Armindo?”
Armindo: “Já não te lembras de mim, pá?”
Pacheco: “O Armindo?”
Armindo: “Estivémos preso no Limoeiro”
Pacheco: “Eu sei lá quem é o Armindo, pá…”
Armindo: “Como é que não sabes…? já não te lembras…?”
Pacheco: “Não, filho, não estive preso contigo, nem com a tua avó...”
Armindo: “Também, com esta escuridão… [no quarto do Pacheco]… eu era um miúdo”
Pacheco: “Olha, vai dar uma volta…”
Armindo: “Vou…?”
Pacheco: “Vai dar uma volta e vem cá amanhã… que estamos a gravar… tu está a ficar aqui gravado, podes ser preso outra vez…”
Armindo: “Está bem pronto, O.K. Agora que estive a dizer que estive preso e tudo… isso é uma reportagem?”
Pacheco: “É, é… é uma reportagem… mas não é da televisão…”
Armindo: “É da TSF?”
Pacheco: “Vem cá amanhã filho e não sejas preso hoje,
Armindo: “Não, eu aliás já me deixei disso”
Pacheco: “Aguenta-te cá fora, vem cá amanhã, mais cedo, que a esta hora já estou a dormir, se não fosse este maluco já estava a dormir…
Armindo: “Como me disseram-me que andavas aqui nas tascas, aqui de roda, de vez em quando…”
Pacheco: “Vai dar uma volta…”
Armindo: “Tchau, adeus… isso fica para a reportagem?
Pacheco: “Fica…”

Pacheco para o entrevistador: “Não sei quem é, nem tenho óculos… Sei lá quem é esse gajo… Quem será este cabrão, nem vi a cara dele… Armindo? Puta que o pariu. Se ele esteve no Limoeiro deve ser um grande fodido, ainda me rouba… Eu estive no Limoeiro com milhares de gajos, porra, olha o que faltava agora era aparecer-me aqui a tropa toda, milhares de gajos... eu estive lá 3 vezes, imagina o que não era… o director do Limoeiro, um gajo chamado Castelo Branco, quando eu estive lá da terceira vez ele era o director, era muito novo, muito inexperiente, depois ficou pior... este jornal, o 24h, anda a publicar umas coisas sobre o terrorismo de direita, de esquerda, agora é sobre os FP’s 25 de Abril... ora este gajo morava na Lapa, mesmo ao pé de onde eu morava, mesmo ao fim da Rua Buenos Aires… e acho que já tinha prendido muita gente das FP e ele deu ordem para haver um rigor especial nas prisões… os presos condenaram-no à morte… o gajo tinha dois seguranças mas um dia estava em casa, mandou os seguranças embora, estava à espera de uns amigos para jantar, como os amigos gostavam de um determinado queijo, o estúpido foi à rua comprar o queijo para os amigos, estavam dois gajos na rua a vigiar, deram-lhe um tiro na cabeça e despacharam-no… ficou como o queijo, todo furado de chumbo...”

Fantástico.

NCR

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