Sangue do meu Sangue, *****
Minha culpa, minha tão grande culpa…, onde terei eu andado para só agora ter tomado contacto com a obra de João Canijo? A ver filmezecos menores dos Woody Allen’s desta vidinha…, pois…
Era capaz de estar uma tarde inteira a escrever sobre este filme. E se calhar ainda era pouco.
O filme de Canijo é desde logo um fresco monumental sobre as condições de vida da maioria dos portugueses nos dias que correm. Cuidado…, o Bairro Padre Cruz onde o filme é levado a cabo não é um esconso arredor de Lisboa. Não, o Bairro Padre Cruz é Lisboa. Limítrofe é certo, mas ainda Lisboa. Como a Mouraria é Lisboa, a Graça, a Bica e a Madragoa. As Galinheiras, a Pontinha, a Encarnação, o Alto do Pina. Lisboa não são, apenas, as suas Avenidas Novas, Telheiras e a sua Alta. Lisboa é o filme de Canijo. Portugal é aquilo. E não é preciso ir muito longe, para o país real como nos áureos tempos do Cavaquismo se sublinhava, para nos encontrarmos com as zonas de pobreza. Hoje somos e seremos todos pobres. Uns mais outros menos, certamente, mas…, todos pobres.
Depois há a cinematografia. Canijo tem aquele dom – um deles – que define os grandes autores de Cinema. Filmar onde não há espaço, dizer muito em tão poucas frames. E aqui o trabalho do realizador português é surpreendentemente magnífico ao colocar amiúde dois planos de acção – não sei se será este o termo técnico adequado – numa espécie de “split de um plano só” – aqui comecei mesmo a inventar termos… Dois ou três planos? Três, não nos esqueçamos das paredes “de papel”, os velhos (abandonados?) vizinhos que nunca se calam…, até as badaladas do relógio da igreja local contam.
Há tanto, tanto cinema num só filme de Canijo. As personagens, as interpretações, a direcção artística. Porra…, que grande filme. Obra-prima, sem dúvida. Deve ser visto por todos.
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