Finalmente, Setembro. O comum dos mortais talvez nem se aperceba, mas não fica pedra sobre pedra junto à costa portuguesa, passado que esteja o maldito Agosto.
No início do mês, eles, os veraneantes, chegam de armas e bagagens; carregam chapéus, colchões, arcas com muito gelo cheias de minis. Pratos de plástico e tachos de arroz de tomate. Taparueres com peixinhos da horta e pataniscas fritas em óleo rançoso. Estacionam onde calha. Primeiro a viatura, depois as múltiplas tralhas e enfim os corpos alvos. Bolas pelo chão, areia pelo ar, água por todos o lado. Gritaria, berreiro, gelados e bolinhos, raquetes. Jornais que se espalham, beatas na areia, sacos de plástico que esvoaçam até ao infinito. No fim do dia, a praia imunda espera que alguém venha recolher o lixo com a mesma eficácia que se pede numa metrópole. No fim do mês canteiros derrubados, passeios partidos, arvoredo desfeito, um cenário de putativa guerrilha.
Finalmente, Setembro. Regressa a ordem natural das coisas.
Para aqueles que frequentam, mais ou menos diariamente, a zona costeira durante todo o ano, Agosto rima com inferno. Para os caçadores de ondas que sofrem um mês inteirinho com a destruição dos seus anfiteatros de prazer, enfim, regressa o sossego. Este ano até a natureza parece ter decorado o calendário. E no início desta semana as ondulações dignas desse nome voltaram a beijar os nossos fundos de areia e pedra. Tal e qual uma doença, gradualmente o vírus veraneante desaparece. E durante os próximos onze meses a praia volta a ser de quem mais ordena: pela sua conservação, limpeza e preservação!
[Foi este o texto que publiquei no Delito de Opinião (link). A foto é do Ricardo Bravo (link).]
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