quarta-feira, 9 de março de 2005

Campo Contra Campo (V)

O QUINTO IMPÉRIO - ONTEM COMO HOJE, ****

Foi no domingo, dia de Oscares, que fui ver o ultimo Oliveira.
Manoel é um realizador que provoca sentimentos extremos e por vezes contraditórios. Não havia, assim, melhor dia para ver "O Quinto Império, ontem como hoje".
Em tempos sonhei, que um dia ia ver Manoel de Oliveira irromper pelo Kodak Thether, aplaudido de pé, a receber a estatueta pela sua carreira. Hoje duvido. Talvez se chegar ao centenário a filmar, talvez. Mas se existe Português que podia e devia ser galardoado com o prémio máximo da industria da sétima arte, esse só podia ser Oliveira.
Vamos ao que interessa.
Baseado na peça de teatro "El-Rei Sebastião" de José Régio, o filme foca um dos momentos mais decisivos da História de Portugal - aquele em que um rei travou a sua mais temerária batalha e deixou o país na miséria.
Mas o filme é muito mais que isso. É uma reflexão sobre a História de Portugal e sobre uma das suas mais fundas mitologias, o sebastianismo, sendo ainda um ensaio abstracto sobre o poder e o lugar do poder. Ontem, como hoje.
Oliveira igual a si mesmo. Rígido, teatral, quase obsoleto, mas muitas vezes genial. Veja se a forma como trata a luz e a manipula para sublinhar o que deve ser sublinhado. Os corpos que se tornam espectros, sombras, como naquela cena onde D. Catarina é acompanhada aos seus aposentos pelo neto. Ou a noite e o dia, a escuridão que por vezes, irradia luminosidade para nos encandear. Complexo, contraditório. Sublime. Veja-se ainda como os espaços vão sendo revelados, com tempo, com magia.
Depois existe um texto fantástico que eu desconhecia por completo, e ainda…, nasce uma estrela. Ricardo Trepa, que "Desejado". A direcção de actores, como sempre em Oliveira é magistral. Ame-se ou odeia-se, mas é obrigatório.

PSL

Sem comentários: