Tomara que o país e os portugueses em momentos difíceis tivessem a
garra e a
união que ontem a equipa portuguesa demonstrou contra a holandesa. Portugal tem uam equipa muito acima do nível médio de Portugal, de topo mundial mesmo, apesar de muitos não se darem conta disso, apesar de todas as dificuldades naturais e imprevisíveis.
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O que quero escrever aqui hoje, e enaltecer, é sobre esses dois grandes atributos que acima referi e que tenho visto desde o primeiro jogo, cujo porta-estandarte nomeio Figo. Figo é um orgulho nacional a vários níveis, não é só no futebol. Figo tem sido um verdadeiro Afonso Henriques nesta guerra acumulada de batalhas desportivas (e por vezes anti-desportivas, como vimos ontem). Pode parecer corriqueiro, mas emocionei-me ontem ao ver a sua atitude em campo, sobretudo quando não tinha a bola. A determinação na procura da bola, a ajuda incansável aos colegas da defesa e aquele suor na camisola - repararam? compararam-na com as outras camisolas? -, aquela camisola dizia tudo, completamente encharcada pelo fôlego de Morfeu, o deus dos sonhos. A culminar, veja-se a sua atitude quando foi substituído, foi de facto deveras emocionante o modo determinado e liderante com que se dirigiu a vários jogadores como se as suas palavras transportassem o sopro de Niké, a deusa da vitória. A excelência está nos detalhes. e já não bastava todas estas qualidades, ainda consegue ser dos melhores jogadores do mundo com a bola nos pés. Tomara que todos nós fossemos, nas nossas profissões, como o Figo é a trabalhar. Não há que ter vergonha de o dizer, pois muitos portugueses são excelentes no que fazem.
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Se Scolari tem um anjo, um anjo português, que se transcende com eficaz elegância, com nome vindo da Dinamarca, um anjo que não voa, mas faz voar, a bola que tanto gosta de pont(ap)ear - podemos dizer que Portugal tem um deus, com nome de fruto. E só não vê quem reduz o futebol ao buraco de uma baliza!
Churchill, no seu discurso de estreia como primeiro-ministro em 1940, escreveu e disse "...Não tenho nada a oferecer-vos senão sangue, trabalho, suor e lágrimas...". Normalmente somos um povo sem vergonha, excepto no elogio e na crítica construtiva. Por isso, e apesar de não ser uma regra lusa, elogio Figo e a equipa portuguesa. E a frase de Churchill aplicada ao futebol, parece-me ser o lema de Figo e da equipa portuguesa. Tal como Churchill pretendia, tal como deve ser na vida, é a coragem, a determinação e a união que fazem a história das guerras, mais do que a contagem dos mortos e feridos.
NCR