A conversa telefónica múltipla entre o INEM, o bombeiro de Favaios e o bombeiro de Alijó não é surreal, nem foi desencantada de um tesourinho deprimente de um ido arquivo da televisão portuguesa. É a nossa alma, o nosso interior, a nossa ética, a nossa, consequentemente, Polís. Dentre as incapacidades demonstradas pelos dois bombeiros, sobretudo, sem comparação, o de Favaios, revela o estado iníquo e desigual, ou seja, assimétrico, em que se encontra o país. Mais, demonstra também a grande diferença que há entre os megas centros urbanos portugueses (à escala portuguesa naturalmente) e o interior, o profundo intestino da máquina portuguesa. E, estou convencido, vai acompanhar-nos por muito tempo, pois as taxas de abandono escolar continuam elevadas e a qualificação dos adultos não tem efeitos de curto-prazo, para não referir a qualidade do ensino, mas adiante.
Não obstante, o que é revoltante (perdoem-me a ingenuidade), o que julgo ser chocante, mais do que a falta de pessoas, de meios, de habilitações adequadas às funções ou, mesmo, de capacidade para acorrer à emergência suscitada pelo estado da vítima, pior do que tudo isto, para mim, é a manifesta postura irresponsável e insolente do bombeiro de Favaios em não largar o telemóvel enquanto a operadora do INEM, desassossegada, lhe comunicava a emergência médica de Castedo.
Tudo se pode perdoar, no limite, àquele bombeiro de Favaios, e alguns (os portuguesinhos) até dirão «pobre vítima, também ela, daqueles que mandam», mas tal atitude flagrante é inadmissível! É que, nessa postura particular, não se trata de ignorância, escassez (ou inexistência) de recursos ou falta de instrução ou de formação profissional. É uma questão de ética, de educação. A insistência do favaiosiano com a operadora do INEM que estava ao telemóvel em momentos diferentes e espaçados, já depois de aquela lhe ter transmitido a pertinente emergência, é experimentar com todos os fígados o custo da ignorância de que Churchill inteligentemente se queixou.
Não tenhamos ilusões. Na saúde, como na doença, pelos frutos se conhece esta árvore portuguesa.
1 comentário:
O bombeiro de Favaios estava ao telemóvel a atender a chamada do INEM. Reencaminhada. Ou fui eu que não percebi??
E revoltante, para mim, foi a atitude da operadora.
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