terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A bolsa e a vida II

Os dias têm amanhecido mais bonitos: as bolsas mundiais estão em queda e fazem um barulho que se escreve"crash", como se fossem baratas esmagadas sob uma sola cosida à mão por uma criança de Felgueiras.
"- Por que razão este gajo armado em Fernando Alves está a dizer que os dias andam mais bonitos com a queda da bolsa mundial?"
Caro leitor, passo a explicar:
O crescimento económico do último par de anos deu causa a dois fenómenos, o medo da inflação e a subida do preço do petróleo. Começando por este último, há muito boa gente que defende a artificialidade do preço do barril de crude, e que mesmo que este estivesse a 70 ou 75 dólares, ponderada a oferta e a procura, ainda assim seria um valor excessivo. E essa artificialidade reside no facto de se dizer que o crescimento da economia leva a maiores necessidades de consumo não acompanhadas pela oferta, pelo menos ao mesmo custo. Pois, mas essa é a razão pela qual é aceitável o petróleo não estar cotado a 20 ou 30 dólares, e nunca a 100...
Por outro lado, o crescimento económico faz com que os dirigentes dos bancos centrais adoptem um discurso que alerta para as tensões inflacionistas que resultam desse mesmo crescimento. Como há muito dinheiro em circulação, o seu valor deprecia-se e ainda podemos dar um passo maior que a perna, pelo que toca a atirar água fria para cima da economia.
A água fria tem um nome: taxa de juro.
Os bancos adoram o crescimento económico e tensões inflacionistas, porque lhes confere um poderoso álibi para subir as taxas de juro, ganhando mais dinheiro, em menos tempo, com o mesmo dinheiro que tinham emprestado.
Porém, os rios de mel e leite não correm para todos, e a subida das taxas de juro levou à crise do mercado hipotecário de alto risco norte-americano e esteve quase quase a chegar à Europa. Claro que se evitou a contaminação dos bancos europeus porque o Banco Central Europeu (I, II) esteve-se nas tintas para a inflação que usa como argumento para aumentar a taxa de juro directora e injectou milhares de milhões de euros no "mercado".
Em conclusão, porque é que os dias estão mais bonitos?
É que agora não há alternativa: ou se baixa a taxa de juro e o preço do barril de crude, ou não haverá grande dividendos para distribuir aos accionistas das principais empresas mundiais, e assim as pessoas poderão viver um pouco melhor do que sucederia se a economia estivesse em expansão...

1 comentário:

Pedro Soares Lourenço disse...

(…)como se fossem baratas esmagadas sob uma sola cosida à mão por uma criança de Felgueiras.
Irra…, que imagem bonita…; mas este nosso rapaz parece que é bruxo. Poucas horas depois deste post, lá vinha o FED, surpreendentemente, dar uma facada de 75 pontos na sua taxa de juro. O BCE e o Banco de Inglaterra devem seguir o exemplo Reserva Federal dos EUA e já há quem diga que o FED não se ficará por aqui.
Pelo sim pelo não, o melhor é ficarem mais atentos às postas sobre economia e finanças deste Nuno…