Ontem terminou o 5.º Congresso da Administração Pública organizado, como sempre, pelo Instituto Nacional de Administração. Só fui lá no primeiro dia, 2.ª Feira, mas li todos os títulos, li na diagonal todos os resumos e na totalidade muito poucos artigos. Parece coisa pouca, mas deu para retirar uma conclusão: com raras excepções, este Congresso é, na generalidadede, uma pobreza atroz. Sobretudo por 3 razões.
Primo, a razão privatística. O Congresso foi inundado de pessoas ligadas ao mundo da consultoria, nal guns casos, aos próprios funcionários públicos. Verberreiam obras, conceitos e metodologias sem uma noção adequada ao mundo (jurídico e humano) da administração pública.
Secundo, a razão narcisística. Muitos dos oradores são deveras repetentes e fico até com a sensação de que alguns trabalham todo o ano para apresentarem algo neste tipo de congresso. Isto, sem esquecer porventura casos em que a própria instituição não promova ou sancione os funcionários que não tenham «algo para dizer». Para dar exemplos desta ordem de razão, há Institutos que estiveram 7 vezes representados, em apresentações diferentes (!), outros que tiveram mais de 10 funcionários seus em diversas, e, aind amais surpreendente, houve vários casos em que realizaram 3 ou mais comunicações(!). Muito se pode retirar destes factos, mas deixo as restantes considerações a quem as ler e quiser pensar nelas.
Tertio, e por último, a razão financeira. Uma inscrição neste Congresso custava aos serviços (e porventura a alguns funcionários) a, como se costuma dizer, módica quantia de 450€ (!) Isto na véspera, porque no dia custava 525€ (!) Sortudos eram os estudantes que pagavam 250€(!) - (O mais ridículo foi a oferta de um "buffet" a preço amigo de 16€! Mais palavras para quê?!)
Conclusão, pode-se facilmente concluir para quem está este Congresso vocacionado: para empresas, consultores e dirigentes (os que autorizam a despesa, claro está), e ter-se-á uma amostra da imensa minoria. Da Administração Pública é, tenho dúvidas é que seja para ela, na sua maioria abrangente.
Como propostas, defendo a redução de todos os preços pelo menos para metade (com os apoios privados que há e a publicidade que existe nas malinhas-oferta não vejo como não seja viável); limitar uma intervenção por pessoa (a pessoa poderia enviar as comunicações que quisesse, o que até seria de louvar, mas só falava uma vez); distinguir as sessões das empresas, das sessões dos serviços e funcionários; e que a avaliação e selecção das comunicações fosse feita por uma comissão independente, ainda que devesse integrar funcionários públicos, obviamente, para que o Congresso não resvale para o amiguismo (que é notório) e o excessivo carácter pragmático e casuístico das comunicações. são tão 'práticas' e tão concretas, que não se aplicam a mais nenhum outro serviço de tão centrada é a comunicação. Continuando na generalidade, que é o que falta a este Congresso, o problema de fundo é a universal (ou pós-modernista) moda da fuga da teoria...por isso, tanta gente tem sempre medo de mudar.
1 comentário:
Tendo estado também no Congresso, permito-me acrescentar que muitas das comunicações são meros actos publicitários dos serviços de onde são provenientes...
Faltou-te só dizer qual a comunicação de que gostaste mais...
;-)
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