segunda-feira, 18 de junho de 2007

N ARIANES II

"Braveheart" 1995


A primeira parte deste videotube é, para mim, uma das cenas mais fortes e memoráveis jamais produzida no cinema. É uma cena cheia de cenas, que, por muitas vezes que a veja, e não são poucas no cômputo geral, não deixa de me comover e de reflectir sobre o mais digno sentido da vida. Julgo mesmo não haver cena igual a esta em outros filmes, se é que isso é possível. E refiro-me à igualdade na força, dimensão e conteúdo da mensagem que sublinha e transmite, na arte que representa, na emoção que desperta. Tudo junto, é um quadro completo de grande beleza e profunda admiração.
Notem bem no culminar daquele suplício voluntarioso, naquele grito cavernoso, que só parece ter uma razão possível (o amor a uma causa) e um sentido improvável (a sua libertação para além do presente e da memória).
É uma cena, e um filme, com a música e a letra da força e da coragem, com as vozes inimigas e amigas a suplicarem misericórdia; uma cena a puxar por uma palavra de perdão e gritada por outra, epílogada de Liberdade. Não há cena e final como estes, há esmeradas tentativas, e apenas isso.
E como todas as obras humanas, a história de Wallace está cheia de paradoxos e contradições. Gosto especialmente de uma, para não vos maçar, que a traduzo através de uma interrogação: como pode a morte de uma pessoa, cujo corpo foi desmembrado, decapitado, despedaçado, com os genitais arrancados, distribuídos pela terra do inimigo, e o coração queimado numa fogueira em 1305 (no filme é mais tarde) ser a primeira e última razão de união de um povo ainda no século XXI?
Assim, é possível universalmente dizer, mas não será absolutamente para todos, morrer como Wallace é provavelmente viver para sempre.

Todavia, é apenas uma cena, de um filme... que não morrerá antes do seu cinema.

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