sexta-feira, 1 de junho de 2007

ESPUMAS XXXVIII



A espuma verborreica sobre os casos Maddie, Charrua, da greve geral e o da OTA vislumbra-se por qualquer lado do olhar. Não há meia volta contornável, nem via escapatória, mesmo para os mais especializados na arte da fuga. São notícias importantes, algumas, como a OTA, determinantes para o futuro do País, mas confesso que estou farto deste tipo de notícias, mesmo que fundamentais para o país. Eu seguia-as, até há pouco tempo, com interesse e importância, agora oiço-as e leio-as, porque sim, pela esperança de ver algo de novo, de aprender um novo olhar sobre o tema, uma novidade substantiva para a boa e livre e profunda discussão do caso, da matéria que lhe subjaz. E nada, nada se transforma neste mundo e tudo se perde. Mas está impossível de se conversar com alguém, um colega, um aluno, até um amigo, nas mais diversas esquinas do diálogo.
Há quem morra, antes de abrir a boca e há quem basta accionar a glote. Ademais, têm que ter um perfil retórico e uma habilitação condizente, caso contrário, é desligado por outro canal ou outra estação ou outra personalidade. Não admira que os programas com debate mais profundo tenham menor audiência do que outros debates mais populachos. Assim como, não admira que os blogues tenham crescido, sobretudo, pelo caminho da análise e discussão, ainda que, infelizmente, haja poucas polémicas intelectuais. Poucas, no sentido qualitativo, e intelectuais, no sentido substantivo e não no de adjectivo (o que não é menos exigente). Mas prefiro que haja menos boas polémicas, do que não as haja de todo. Só as muito más, porque falsas, são de evitar.
O sentido da vida das notícias deriva e os blogues cresceram, qualificaram-se, hierarquizaram-se pela medida das páginas vistas e pelos demarcantes estratos intelectuais. Ainda assim, com melhores audiências que muitos programas de televisão, de notícias e sobre notícias, com comentadores. Além de que, um certo tipo de audiência no blogue é bem mais qualificada e influente do que a audiência televisiva. E porquê? Por várias razões, mas suspeito que, como mencionei em cima, sabe-se conversar pouco. As pessoas chatam, mas não dialogam. Ninguém responde a ninguém. Todos fingem ouvir. Não há diálogo, há monólogos cruzados. O mesmo acontece nos gabinetes, nos restaurantes, nos cafés, nas casas de amigos, nas aulas, nos centros comerciais, nos partidos, etc. Na televisão, é aparecer ou morrer, o resto é conversa barata.
Parece eclodir na nossa sociedade uma nova dimensão da surdez, outrora física, hoje, física e comunicacional ou intelectual. Ninguém ouve ninguém, todos estão a preparar a palavra certa para interromperem, a frase assassina para arrasarem o interlocutor, a postura do tronco, as expressões do rosto, a estratégia publicitária do discurso, mesmo para amigos, pois o importante é ganhar e não convencer fundadamente, correr bem é falar muito e melhor do que o outro. falar, refira-se, falar. Eis, provavelmente, uma das causas de expansão dos blogues: aqui, existe a palavra e a palavra acima de tudo. Imagens são complementares. Se é bonito ou feio, é para este efeito irrelevante. Homem ou mulher, idem. O importante adquire-se por si: há tempo para pensar e espaço para escrever, e ideias para sufragar ou contra-argumentar, satisfaz, portanto, o «bicho da crítica». Não há pressão, a não ser a boa, a da responsabilidade, da transparência e da exposição pública. Nos blogues não temos que ser retóricos, antes argumentativos, sob pena de não voltarmos a ser lido pela mesma pessoa ou, então, a ser lido apenas por quem se interessa por nós ou por certo tipo ou tema de escrita.
Na verdade, está a ficar insuportável ouvir notícias, intolerável o nível e o tratamento educacional dos cidadãos mais jovens e a tendência autista dos “dialogantes” que atravessa todas as idades, com excepção, talvez, dos idosos. A informação, o conhecimento e a capacidade crítica, são critérios ainda indutores do atraso da sociedade portuguesa. E parece que não há luta por eles que não resulte somente em uma aparente esperança. Continue-se com as políticas e estratégias políticas e pessoais de prevalência do «parecer», do «título», e assista-se à insustentável leveza do «ser».

1 comentário:

Pedro Soares Lourenço disse...

Que musica fantástica, que vídeo lindo. Boa escolha para um post que devia ser lido e reflectido por todos.