sexta-feira, 1 de junho de 2007

Da língua

Quem me conhece sabe que eu sou um tipo tolerante, com algumas intolerâncias pontuais. Sou intolerante quanto à língua e à grámatica e não suporto erros ortográficos.
Assim, subscrevo a crónica de hoje de Vasco Pulido Valente, no Público:
"Palavras soltas"
01.06.2007, Vasco Pulido Valente
No exame de Português do 9.º ano, os critérios de avaliação permitem que um aluno possa ter dois pontos (em cinco) com "muitas insuficiências" de natureza "ortográfica, lexical, morfológica" e "sintáctica". Ou seja, em última análise, permite que um aluno entre no secundário sem saber escrever. Basta que responda com "palavras soltas", se der uma ideia que percebeu a pergunta e sugerir vagamente a resposta. (...)
Toda a gente conhece as mil e uma razões por que as crianças não sabem escrever. Pior do que isso, excepto um ou outro e-mail ou SMS, as crianças não precisam de escrever. Se o Estado suprimisse a disciplina de Português (e já agora o Latim, o Grego, a História e a Filosofia), nem a sociedade, nem o PIB sofriam muito. Suponho mesmo que não sofriam nada. Para a espécie de homem, e de mulher, que por aí crescentemente circula, as "palavras soltas" chegam e sobram. (...) Os critérios de avaliação do exame do nosso 9.º ano não passam de um sintoma de uma realidade maior e mais triste: o lento "regresso" do Ocidente a uma nova espécie de barbárie. Nunca se gastou tanto dinheiro em "cultura" e nunca a cultura foi tão universalmente desprezada. A classe média, que desde o século XV foi a sua portadora (e criadora) por excelência, está reduzida a viajar com a penetração de um boi (rico) que olha para um palácio. A linguagem pública (religiosa, política, jornalística, musical, literária, cinematográfica, universitária) empobrece dia a dia. A conversa, como arte, morreu, porque as pessoas não têm que dizer e muito pouco interesse em ouvir. O Estado anda a educar as nossas queridas criancinhas para este mundo. Que outra coisa seria de esperar?

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