sexta-feira, 1 de junho de 2007

Das Touradas e da intolerância

Não sou aficionado das touradas. Quando, por acaso, a minha televisão passa por uma, confesso que faço uma pausa, para ver se vai decorrer alguma pega de caras. Se houver, vejo a pega, e depois mudo de canal. Deve ser um pouco como aquelas pessoas que não gostam de futebol, mas esperam para ver a marcação de um "penalty".
Dito isto, não sou contra as touradas. Nem a favor. Sou - por assim dizer - tauromaquicamente agnóstico. Admito que haja pessoas que não gostam de touradas, como há pessoas que não gostam de concursos de beleza, ou mesmo pessoas que não gostam de pessoas com opiniões contrárias.
Mas uma coisa não admito: a pretensão de superioridade moral, seja daqueles que são contra as touradas, por defenderem a "vida animal", seja daqueles que são contra o aborto, por defenderem a "vida intra-uterina".

Deixo-vos com o excerto de um artigo de Daniel Oliveira, que leva a questão à sua verdadeira dimensão: a simbólica.




«A tourada é um sinal de resistência à industrialização da vida e da morte. O espectáculo da morte do touro, em Barrancos, é em tudo semelhante ao da matança do porco, é aquele que nos mostra de onde vem a nossa vida, que nos diz da nossa dependência em relação à natureza. Na matança do porco, a celebração é privada e familiar, na matança do touro ela é pública e comunitária.
É também a resistência de uma cultura rural em relação a uma cultura urbana. A cultura da cidade e do domínio tecnológico sobre a natureza é, não escondo, mais tolerante e multicultural. Mas ela aflora, neste como noutros casos, uma hegemonia intolerante e insensível aos processos de afirmação de identidade do mundo rural.»

1 comentário:

Pedro Soares Lourenço disse...

Pensem bem: na verdade os animais não têm direitos. Os homens é que têm deveres para com os animais.