quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Inventar novas liberdades e o discurso das pequenas coisas


Que é como quem diz o vácuo ao Eliseu, já!
Durante estes últimos dias tenho me mantido calado mas atento ao novo fenómeno da política Europeia. A vitória de Ségolène Royal nas primárias do Partido Socialista Francês inundou as esferas de comunicação de simpáticas reacções. Pesquisei, li, vi e na realidade apenas encontro o vazio.
O triunfo de Madame Royal vem acompanhado um pouco por toda a parte de lisonjas. Mas o que fica para alem de tanta poeira?
O que se conhece do pensamento de Royal sobre o futuro da Europa? Sobre o actual estado das relações Euro-atlânticas? Sobre os graves problemas internos franceses? Sobre as tensões no Médio Oriente? Sobre a escalada nuclear? Sobre o terrorismo florescente? Sobre a fulgurante ascensão da China e da Índia?
Nada vezes nada! Sobre isto ou coisa alguma não se conhece, em bom rigor, nada do pensamento da senhora.
Então porquê tanto alarido? - vg como a blogosfera lusa, quer à esquerda, quer à direita aplaude em uníssono ensurdecedor a neófita candidata.
Entrámos claramente num tempo novo em que todos (ou quase) baixam os braços perante a ascensão do vazio. Basta um vestido branco, um sorriso pepsodente, umas larachas no lugar de ideias, uma citação avulsa de J. F. Kennedy que qualquer aluno do secundário conhece e reconhece para ser transportado em ombros pela porta grande do abismo do nada.
É de facto um tempo de neo-pos-modernidade. Depois do elogio do pequeno, da desconstrução como doutrina de tudo, abraçamos o amor pelo vácuo, pelo vazio, pelo imaculado branco de um traje ou sorriso
As liberdades não se inventam, reconhecem-se. Um discurso não é feito de pequenos nadas, mas sim de ideias. Pois ambas não nascem nem morrem, apenas se transformam.

PSL

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