Os Filhos do Homem, ***
Não há crianças, não há futuro, não há esperança!
Este filme é um pesadelo. Um pesadelo do caraças, para não dizer coisa menos bonita.
Tudo é estranho neste filme. A começar pelo ostracismo de que tem sido alvo por parte do público e, principalmente, da crítica. Estes pobres ainda compreendo. O público, não.
Os Filhos do Homem é a encenação de um futuro com demasiados elementos de presente para ser ignorado. Um argumento pesado, doloroso mesmo, que se desenvolve aos nosso impotentes sentido.
Existem varias cenas de antologia ao longo do filme. A radical cena de abertura, por exemplo, que nos transporta para o pesadelo sem pedir licença. A bíblica cena de interrupção da batalha corpo a corpo (as guerrilhas urbanas como alegoria trágica das antigas batalhas corpo a corpo) pelo choro de uma criança.
Mas sobretudo a cena de plano único – imediatamente antes desta ultima – em que a câmara segue os passos de Theo na desesperada esperança de resgatar a recém-nascida. Não tanto pelo plano arriscado, mas sim por toda a envolvente e perfeita encenação esta é daquelas cenas que fica nos anais da memória e deveria ser mostarda em qualquer escola de cinema.
Com tanto e tão bom, porque é que Os Filhos do Homem não é uma obra-prima mas sim um filme apenas bom?
Porque a excelência convive paredes-meias com uma banalidade incompreensível. Quase tão incompreensível como a brutalidade dos homens revelada no filme. Toda a longa sequência da fuga da quinta, após o assassínio da líder (decepcionante Julianne Moore) dos radicais que lutam contra o governo Britânico pelos direitos (?) dos imigrantes é tão ridícula e decepcionante que chega a desesperar. Para alem disso os actores (com excepção de Clive Owen) estão muito aquém deste épico do desespero.
Fotografado com um cinza very British, envolvido por um mau estar geral Orwelliano, Os Filhos do Homem, representa demais para ser ignorado.
Amem-no; odeiem-no. Mas vejam-no.
PSL
4 comentários:
O livro de P.D. James no qual o filme se baseia ainda consegue ser mais angustiante e negro.
Mesmo assim, gostei bastante do filme e é uma pena que passe ao lado...secalhar porque há coisas em que preferimos não pensar?
Eu acho que é exactamente pelo "argumento pesado, doloroso mesmo" que está a passar ao lado...
Ainda não vi mas conto ver.
Não li o livro nem vi o filme. Um bom programa para o fim-de-semana. Pelo que percebi é importante estar com boa moral para conseguir extrair da peça o seu melhor. Como ânimo não me falta, venha o pesadelo!
Abraço, gostei do teu blogue
P.S. Escreves bem o que é uma raridade na blogoesfera, embora os haja muito bons.
Obrigado, João, pelas simpáticas palavras. Não percam o filme…
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