segunda-feira, 30 de abril de 2007

Haka (-algias)

Nunca dancei a haka, o máximo contacto antes de um jogo de rugby na adolescência de que me lembro (entre 1987 e 1991), é de uns abraços laterais, reunidos em círculo, ombro a ombro, de cabeça para baixo dirigida às mãos unidas ao centro prefigurando uma falsa mêlée. Recordo-me também de alguém muito endiabrado da equipa do Benfica ter uma dança maldosa (bem podia ser apelidade de Hakana) e que, infelizmente me custou um dos dois dentes levados pelos punhos adversários, apesar do uso permanente da boqueira. Deste modo, pode dizer-se que o rugby português também tem as suas danças, não menos ou mais do que nos outros países é certo.
Ter saudades do rugby, em termos físicos, não é um estado muito animador, pois significa lembrar os end-off (murros) na cabeça e no tronco, as dolorosas e, muitas vezes, 'invisíveis' gravatas (paragem, ou tentativa de, do adversário pelo pescoço- conduta sujeita a penalização), os pontapés nas pernas, os apertos nos tomates, as pisadelas maldosas. Como em tudo, há sempre um lado positivo, por isso as coisas boas eram mesmo muito boas, como a satisfação 'orgásmica' de marcar um ensaio após várias fintas corporais assentes nos pés, a sensação de coragem dos embates físicos, o controlo necessário para não se perder o domínio da bola e da jogada, a camaradagem como condição essencial para a vitória, o cheiro da terra húmida, o som dos pitons, a evasão da terra nos cantos mais recônditos do corpo através de um banho celestial e purificador e, por fim, ou talvez não, a festa na noite do jogo. O rugby afastou-me muito do futebol, do jogado e do visto. Nos fins-de-semana, de espectador no estádio da Luz (desde quase bébé) passei a jogador nos seus respectivos campos anexos e de outros, sobretudo no estádio universitário e nacional. Em vez de um jogo de futebol, preferia mil vezes ver um de rugby. Preterindo um jogo de rugby, que nos finais dos anos 80 só se via na RTP 2 ( aos Sábados e Domingos à tarde, onde a emissão, de manhã à noite, era dominada pelo desporto), só mesmo imagens e (raríssimas) reportagens sobre surf (o bodyboard nestes tempos não tinha ainda visibilidade relevante). Velhos tempos. Hoje, reina o futebol. Diria mais, absolutiza. Naqueles tempos, era slogan na comunidade do rugby dizer-se que «a diferença entre o futebol e o rugby é que o futebol é um jogo de cavalheiros jogado por brutos, enquanto o rugby é um jogo de brutos jogado por cavalheiros». Tempos finais ou sinal dos tempos?

Por todas estas lembranças levou-me esta dança, que tem tanto de bela, quanto de misteriosa e invisível.



A História está aqui e aqui.

Para apreciarem e terem um cheirinho do aqui vos disse, vejam esta parte de um jogo brilhante, aqui.

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