Já tinha visto de quase tudo no IndieLisboa. Faltavam aqueles tesourinhos (não deprimentes) que nos transformam uma ida ao cinema em algo inesquecível. Em boa hora decidi dedicar o "tempo de cinema" da passada quarta-feira às curtas em competição. Enfim, achei o pote de moedas de ouro no fim do arco-íris. E compreendi porque é que no voto do público, em média, as curtas estão mais bem votadas do que as longas. Não podendo falar de todas - ao todo vi na nove curtas - nem sequer de todas os que me impressionaram, aqui fica uma selecção; com os defeitos e virtudes de todas as selecções:
Zeep, *****
A historia de um velho e simpático camponês ("agora chamam-lhes agricultores") Alemão que perde a mulher nas vésperas da sua viagem de sonho à Islândia e decide empreender uma "cruzada" para encontrar uma substituta para a defunta. Moritz Laube, o realizador, não esconde a influencia Lynchiana de "Uma historia simples". E ainda bem. O que encanta nesta curta é a maturidade de todos os elementos, da direcção de actores à realização. O produto final é linear mas grandioso. Emocionante e desconcertante. Vai ganhar alguma coisa neste festival.
Plac, ****
Uma curta experimental de apenas dez minutos que chega da Croácia e nos mostra um dia no mercado de Zagreb. Não há muito a dizer: montagem perfeita num filme que está a meio caminho da instalação. Delicioso.
Kitty & Júlio, *****
Da jovem realizadora portuguesa Claudia Rita Oliveira esta é também uma curta experimental que parte do pressuposto metodológico separação temporal de som e imagem. O som é Kitty (e Praga). A imagem é Júlio (e Praga). E estava difícil o reencontro… Apelando aos sentidos é surpreendente e quase perfeito. Melhor compreendido por quem já viveu os sons curiosos da capital Checa.
Voyage en sol majeur, *****
Provavelmente o filme mais emotivo do festival. Na quarta feira foi recebido com duas enormes salvas de palmas e muito assoar típico da lagrima ao canto do olho. Georgi Lazarevski com uma pequena câmara de vídeo filma o sonho nonagenário do seu avô: uma viagem de carro a Marrocos. A avó, já meia "maluquinha", fica em casa; mas funciona como a antítese perfeita de uma tese de noventa e um anos. Nesta viagem, o que falta em cinematografia há de sobra em pragmatismo. "Se eu acreditasse no paraíso desejaria que ele fosse um palmeiral". Soberbo!
Duas notas finais. Quem não viu dificilmente poderá ver estes filmes a não ser que esteja muito atento à programação do Onda Curta da 2:. As cinco estrelas que em regra nestes "Campo Contra Campo" guardo apenas para as obras-primas devem aqui ser entendidas "cum grano salis"; pois estamos perante obras de jovens estudantes de cinema que normalmente filmam sem orçamento e com o que vão encontrando no seu percurso como aprendizes de feiticeiro.
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