
Em duas linhas, "Luz Silenciosa" segue na sombra de um agricultor da região de Chihuahua no Norte do México, profundamente crente, inserido numa comunidade Menonita (protestantismo ortodoxo - se é que a expressão faz algum sentido), pai de família com seis filhos a seu cargo que se apaixona por uma outra mulher. Das tensões e contradições desta historia (aparentemente) simples faz-se um filme notável que fica a "centímetros" de ser uma obra-prima.
Mas não é fácil entrar em "Luz Silenciosa". Habituado a trabalhar depressa demais, o nosso cérebro tem dificuldade em dar espaço aos sentidos. Na primeira metade do filme, não é a câmara que vai ao encontro da acção. A câmara fica e a caravana passa; sublime. Depois, o espectador fica preso ao silêncio da luz quente. E recorda-se das obras maiores de mestres como Terence Mallick, Lars Von Trier, Abbas Kiarostami, mas, sobretudo, desse gigante que por cá poucos conhecem: Carl Theodor Dreyer. Reygadas não esconde que os ama. Nem tem de esconder. Alias é do sumptuoso "Ordet" de Dryer (provavelmente o filme mais maravilhoso que já vi) que a Luz de Reygadas emana.
Apenas mais uma nota só: quebrado uma "regra" desta minha serie, escolho como imagem para ilustrar este post o cartaz oficial do filme. Por uma simples razão: na simplicidade daquela imagem tão bem iluminada, estará, provavelmente, a síntese de todo o filme de Reygadas.
[Só mais uma coisa. Não sei se o Pedro Correia já viu este filme. Se não, ouso sugerir que não o perca (não vá o diabo leva-lo rapidamente). Se sim, "exijo-lhe" algumas "fitas cortadas" sobre o mesmo.]
Sem comentários:
Enviar um comentário