segunda-feira, 28 de abril de 2008

Algumas notas sobre a 'crise do PSD'

A análise hoje do PSD feita por Marcelo Rebelo de Sousa quanto aos candidatos é certeira, excepto porventura nalgumas referências a Manuela Ferreira Leite. Acrescento apenas algumas considerações que, apesar de parecerem óbvias, têm a marca da sua imprevisível inscrição na realidade.

- A aproximação de Pedro Santana Lopes e de Alberto João Jardim não é de admirar ninguém. Dois vultos da verborreia política, do populismo democrático, da demagogia gestionária e do planetário ego que parece só sobreviver em contacto com os media, que qualquer desunião entre eles será, de acordo com o sobredito perfil de ambos, pura estratégia pessoal e partidária. Pelo que, o destino eleitoral de ambos no PSD em nada mudará a natureza de cada um. O que pode mudar sim é a sobrevivência do PSD, tal como o conhecemos ainda, e possivelmente a distribuição dos votos nas previsíveis eleições legislativas de 2013. A dúvida é saber se um daqueles candidatos ganhar o PSD se este sobreviverá à cisão. Tal profecia condicional não se limita à natureza dos ditos senhores da política, mas antes à incredibilidade do partido, à contínua guerrilha de opinião pelos seus adversários pelos diversos meios de comunicação e à balcanização (que, como prenúncio da sua cisão, será temporária) das facções pessoal-partidárias que cairia com a aventada eleição. O que não deixa de ser curioso, e quiça a salvação do PSD - repito, na hipótese de PSL e/ou AJJ ganharem as eleições - é que se existem facções que têm o mínimo de conteúdo ideológico para criarem um novo partido são precisamente as do PSL e do AJJ. Ora, aqui residiria um terrível paradoxo: o PSD seria liderado pelo candidato com capacidades únicas de tomar o raro espaço político-ideológico que pode fazer concorrência ao próprio partido. Ou seja, como reagirão os Wallys do PSD que, acossados pela multidão, sendo o centro do jogo político-mediático, só existirão legitimamente nos meios de comunicação social. Aqui cair-se-ia noutro paradoxo com um decisivo ponto de interrogação.

- O bom senso manda que os eleitores não escolham o seu eleito antes de se lhe conhecer o respectivo programa eleitoral. Bom, mas em Política, também sabemos que o bom senso não é o mesmo que aquele que existe fora dela. De certo modo, ainda bem, porque a previsibilidade humana é indissociada do histórico do político na política moderna e porque também se deve distinguir o bom senso individual e o bom senso colectivo ou institucional. Todavia, não deixa de ser surpreendente a reunião da distrital do Porto com o objectivo de escolher um candidato antes de se conhecer o programa dos mesmos. Para mim, parece-me ser típico das democracias partidariamente frágeis, acríticas e excessivamente dependentes do cacique e da personalização.

- Por último, uma nota tipo "quem me dera ser mosca": é que apetecia-me dizer que não seria supresa se, no caso de um destes senhores ganhar, o voto de Cavaco Silva, a votar em alguém, fosse para Sócrates nas próximas eleições legislativas. Deste e de outros. Todavia, também chegará o dia D para o PS, que, previsilvelmente, ainda não será em 2009.

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