«Adorava escrever como um escritor
e fazer da escrita o meu amor,
Mas não tenho o dom de ser como as palavras,
Nem sou filho da letra mãe.
Suporto implorando o favor que jazem em mim,
Carrego o fardo de acordar com elas, sem ombros,
E tento abraçá-las nos papéis mortos
Onde despejo o suor digno dos meus sonhos.
Adorava ser adorado pelos versos,
E como desejava ser namorado da escrita!
E amigo do escrever bem…
Como um escritor!
Mas o infortúnio é o ocaso iluminado da alma
Que abriga os cálices proibidos a qualquer mortal.
Resta-me discursar bafos e desabafos,
Sem verborreia despachante,
Nem todas as letras servem para sopa, ou sopinhas.
De pós e areias se faz a poesia,
De nadas e nudez se completam os poetas.»
© Miguel Pessoa Campomaior, in "Poesias Urbanas"
Sem comentários:
Enviar um comentário