quinta-feira, 29 de março de 2007

300 vs 100 000

Pelos trailers já vistos, parece-me uma mistura de O Senhor dos Anéis, Gladiador e Matrix (filmes maiores, aliás, da História do cinema, sobretudo na perspectiva da realização), mas são sobretudo três as razões que me levam a querer ver o filme: a primeira, é a linha épica ou epopeica do argumento histórico do filme; a segunda, a estética da coreografia das batalhas. Há algo naqueles filmes recentes que não se vê nos expoentes dos antigos como Ben-Hur (1959), Quo Vadis (1951), Spartacus (1960) ou Seven Samurai (1956), essencialmente devido à diferente contextualização do conceito de guerra e às limitações técnicas da altura. Por último, os diálogos. Tal como Salvatore recortou os beijos censurados da sua infância (Cinema Paraíso), também os diálogos de batalhas mereciam, um dia, ser destacados. Os diálogos são muitas vezes previsíveis, ou ingénuos, ou simplistas, mas normalmente há sempre uma deixa, uma cena, um diálogo que supera a trivialidade. Apesar de não me dedicar à memorização de 'falas' ou de cenas argumentativas, retenho, como julgo acontecer com quase toda a gente, frases ou diálogos que, por curiosidade, para mim são mais fortes quando retiradas dos seus ambientes bélicos. Recordo agora o diálogo tão simples, quanto inesquecível, entre o Comissar Danilov (Joseph Fiennes) e Vassili Zaitsev (Jude Law) em "Inimigo Às Portas" (2001) - um finísimo filme de guerra também ele. Escrevo apenas uma deixa desse curto diálogo, um dos melhores momentos cinematográficos em termos de argumentação e com certeza a melhor 'fala' de todo o cinema que já vi (como hoje é perigoso dizer isto). A prova encontra-se na sua beleza, e dimensão, e no arrepiante estado de Rodin em que me faz cair, sempre que a releio ou me lembro dela:

«Danilov: I've been such a fool, Vassili. Man will always be a man. There is no new man. We tried so hard to create a society that was equal, where there'd be nothing to envy your neighbour. But there is always something to envy. A smile, a friendship, something you don't have and want to appropriate. In this world, even a Soviet one, there will always be rich and poor people. Rich in gifts, poor in gifts. Rich in love, poor in love

A guerra, commumente personificando o Mal, tem a perversa beleza de ser susceptível de admiração pela coragem e honra que exige aos humanos. E por ser, na realidade que os cerca, tão visivelmente rara pelos cinéfilos e demais espectadores, a sua grandeza é normalmente retratada pelo lado sobrehumano, ou seja, pelos heróis. Coisa que, aqui e acolá, quase todos se esforçam ser por um dia, ou todos os dias. Hoje, os actos heróicos são outros, logo, os heróis sofreram um up grade. Morrer pela Pátria, por exemplo, já não é condição única para se ser herói. Herói hoje é saber manter-se vivo e livre, e possuir uma causa, para além de si próprio, até ao final da sua vida.

Spartan King Leonidas: This is where we fight! This is where they die!
Captain: On these shields, boys!
[Spartans cheer]
Spartan King Leonidas: Remember this day, men, for it will be yours for all time.
Persian Officer: SPARTANS! Lay down your weapons!
Spartan King Leonidas: Persians...COME AND GET THEM!



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