quarta-feira, 4 de maio de 2005
Pessoalização
Há pouco mais de três meses escrevi: «Um dos maiores erros do entendimento humano actual, na senda do empirismo de Locke que relevou a análise e a observação na formação do conhecimento, é cada vez mais discutirmos os conceitos e as ideias pela bitola da personalização. Ou seja, é crescente a incapacidade de se discutir e analisar os problemas que afectam a sociedade política ou as questões às quais se deve dar resposta com o necessário divisor comum que é a abstracção.»
Apesar de não querer falar especificamente sobre a personalização da discussão, vem todavia a propósito, porque se insere numa problemática semelhante que é a da pessoalização da acção política.
Parece que a conselho de um dos mais bem sucedidos estrategas de campanha política australiana, Lynton Crosby (que levou o conservador John Howard - actual primeiro-ministro - à vitória das eleições de 1996 e de 2001, sobretudo através de um ataque pessoal ao trabalhista Paul keating), Michael Howard, candidato conservador a primeiro-ministro britânico, mudou de táctica e a sua acção política passa sobretudo pelo ataque pessoal, ou seja, parece que o objectivo principal da sua campanha é Blair, e não as suas políticas, as suas posições e respectivas ideias e programa. tories.
Se Howard for tão bem sucedido como o seu homónimo australiano, podem as eleições, e a política no seu todo, tornarem-se num laboratório redutor e básico de novas formas de fazer política e da própria governação, pois os instrumentos e os argumentos utilizados têm impactos deveras fortuitos e imprevistos. Apesar de útil como ferramenta de marketing e de conquista de poder, a pessoalização da discussão política é no entanto uma ferramenta perigosa a vários níveis: pedagógico, cultural, democrático, social, ou seja, do bem comum.
Para além disso, contribui para o afastamento das pessoas da política e para o esvaziamento cultural das elites políticas, tornando-as (ou mantendo-as) mesquinhas, desconfiadas, egocêntricas, prejudicando dessa forma a abertura, a tolerância e a confiança democráticas, valores que devem estar quer na classe política, quer, o mais possível, em toda a classe popular.
Esse quadro de juízos é bem ilustrado por uma sondagem encomendada pela SkyNews que mostrou que 62% não confia em Blair e 66% não confia em Howard! Ou seja, o próximo primeiro-ministro não terá a confiança da maioria (absoluta) do eleitorado (nos termos da amostra)!
Desconfiança ou esconjuração?
NCR
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