«Probabilidades de o país ter petróleo são fortes, mas estudos são escassos
A subida dos preços do petróleo no mercado mundial está a convidar os países a recorrer ao carvão para produzir gasolina e gasóleo e as petrolíferas a explorarem reservas que até agora não eram comercialmente rentáveis. Portugal tem uma cartada a jogar: cientistas garantem que as probabilidades de ter petróleo na costa são fortes e que só falta estudá-las.
Dois investigadores portugueses, um da área da engenharia, Manuel Collares-Pereira, e outro da física, Rui Namorado Rosa, partilham de forma convicta a ideia de que o petróleo barato chegou ao fim e que as sociedades têm de pensar seriamente em alternativas - um grupo cada vez maior de cientistas e especialistas a nível mundial, congregados à volta da Associação para o Pico do Petróleo (Aspo), acredita no mesmo.
O alerta soa em duplicado para Portugal: é o país que paga mais 100 milhões de dólares de factura energética por cada dólar de aumento do preço do barril de petróleo e que importa todos os combustíveis fósseis de que necessita. É, por isso, o Estado mais vulnerável entre os Quinze.
Embora as probabilidades de o país ter petróleo ao largo da costa sejam fortes, os estudos são escassos, defende Rui Namorado Rosa, director do centro de geofísica da Universidade de Évora. "Em terra, não são de esperar surpresas, mas no off-shore há ainda muito por fazer, em estudos geológicos e prospecção", afirma o físico, para quem o trabalho de há alguns anos, limitado à plataforma continental mais próxima, e os "resultados pouco motivadores" dos blocos então atribuídos estão longe de fechar o processo.
Com a certeza de que "o off-shore e a bacia sedimentar ocidental portuguesa são, em princípio, promissores de jazidas de hidrocarbonetos", falta comprovar que todos os factores que concorrem para existência de petróleo se tenham reunido naquela vasta área. "Só um estudo geológico e de prospecção pode comprovar", sustenta o cientista. E remata: "É do nosso interesse que esse trabalho seja retomado."
Namorado Rosa acredita que, à medida que o petróleo se tornar cada vez mais caro, as empresas vão interessar-se por procurar encontrá-lo em locais difíceis, como a costa portuguesa. Hoje, a tecnologia permite ir mais longe e com mais certeza do que há duas décadas, mas com custos acrescidos e complexidade também.
A inovação tecnológica permite que países como o Brasil tenham passado a explorar petróleo no off-shore profundo, no caso a mais de dois mil metros de profundidade - o que há apenas cinco anos não era possível. Mais caro e mais complexo, o off-shore profundo é "um indicador revelador da necessidade dos países" em encontrarem recursos energéticos.
"A humanidade está a passar por um momento singular", diz Namorado Rosa. O pico da capacidade de produção mundial de petróleo está a acontecer (em 2005), segundo alguns autores, ou está prestes (algures nos próximos dez anos), segundo outros.
O grupo dos chamados "petropessimistas" entende que a inovação tecnológica, frequentemente invocada como prova de que o crude não escasseia, não conseguirá sobrepor-se ao próprio esgotamento dos recursos a explorar e ao sobrecusto inerente de uma extracção cada vez mais complexa. A equação de custo energético do sector diz que para extrair 50 barris de petróleo da Arábia Saudita é necessário gastar (em energia) um barril apenas. O mesmo barril dá apenas para extrair dois a três barris de petróleo das areias betuminosas do Canadá. "O custo energético da energia está a aumentar. Isso significa a redução da eficiência imposta pela própria natureza", conclui o director do centro de geofísica de Évora. "O que era mais fácil de extrair já foi extraído há muito tempo. É possível extrair petróleo das areias do Canadá, mas os custos são extraordinariamente mais elevados do que extraí-lo dos campos do Médio Oriente". No limite, "se a inovação tecnológica fosse a chave dos problemas, também teria sido possível suprimir as alterações climáticas".»
Público, 19 de Maio.
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