sexta-feira, 4 de maio de 2007

CRONOS XIV


"Home by the sea" (1983) - Genesis


Esta música era ícone nos tempos idos da segunda metade da década de 80. Era um tempo que fervilhava de tendências e de sofreguidão por sons novos, diferentes ou de vanguarda. Anunciar um autor, grupo ou música fabulosa que se estava a ouvir (antes de «estar a dar») era quase como anunciar a chegada de um extraterrestre. Era o tempo, também, das cassetes, dos gravadores e dos primeiros walkman, o sonho de qualquer adolescente na altura. As festas faziam-se sem DJ e com discos de vinil. O nível económico de uma família, entre amigos, era medido pela qualidade da aparelhagem de som que se tinha na sala ou no quarto. Eram tempos diferentes, sem dúvida. Tão diferentes nalguns aspectos, que me parecem estranhos. Sentimento que comprovo e reforço quando vejo o documentário do António Barreto na RTP1 sobre o retrato social dos portugueses. Quanto aos Genesis, lembro-me de quase tudo dessa época, pois era uma das minhas bandas preferidas. Quanto à Home By The Sea, do usualmente designado álbum "Mamma" que nunca foi, lembro-me especialmente de a ouvir dias a fio no caminho casa-escola, e vice-versa, de sentir a intensidade da voz (e dos grasnidos) do Tio Phill ser quase canção residente da Discoteca Bananas, com direito a visualização do vídeo através de projector da música em concerto, que suscitava o delírio da rapaziada na discoteca, em especial o fabulástico solo de bateria de Phil Collins. Imperdível. A bateria de Collins era uma «pedrada» da juventude dos 60's e 70's. Ver aqui e aqui, alguns exemplos desse histórico. Atente-se igualmente a Chester Thompson (baterista buscado à banda de Frank Zappa pelos Genesis, depois de Phil Collins sair da bateria para o microfone principal em resultado da saída de Peter Gabriel) e de Luis Conti na percussão (no segundo vídeo).

A mudança, todavia, não é o mesmo que transformação. Por isso considero que, como diz Barreto, «os portugueses mudaram». Mas, há sempre um mas, os hábitos e as mentalidades não terminam abruptamente, nem com séculos de gerações. Ao fim e ao cabo, de algum modo, somos todos filhos da mamma cultura.

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